Inundação em Porto Alegre foi falta de manutenção, dizem especialistas

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Inundação em Porto Alegre foi falta de manutenção, dizem especialistas

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Água do Guaíba invadiu comportas com falhas e inundou casas de bombas

O sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre, considerado robusto e eficiente, falhou devido à falta de manutenção por parte da prefeitura, através do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). Essa é a conclusão de 42 engenheiros, arquitetos e geólogos, que divulgaram um manifesto explicando os motivos da maior enchente da história da capital gaúcha.

Desenvolvido na década de 1970 por engenheiros alemães, o sistema de proteção de Porto Alegre conta com cerca de 60 quilômetros de diques e barragens, além de importantes avenidas como a Castelo Branco, Beira-Rio e Diário de Notícias, e a rodovia Freeway, que impedem o extravasamento da água do Guaíba.

Estrutura do Sistema de Proteção

O sistema inclui o Muro da Mauá, um dique para a área central da cidade, com 14 comportas que regulam a entrada e saída da água e 23 casas de bombas hidráulicas que funcionam como pontos de drenagem durante inundações. Os arroios, como o Arroio Dilúvio na Avenida Ipiranga, complementam o sistema de diques internos. Mesmo com uma cota de inundação de 6 metros, a enchente recente, que chegou a 5,30 metros, mostrou as falhas do sistema.

“Os diques e os muros não vazam. Os vazamentos ocorrem nas comportas sem manutenção. No ano passado, as deficiências ficaram visíveis, mas não foram corrigidas. As casas de bombas também estão inundadas”, destacou o manifesto.

O que dizem os engenheiros

“O mais urgente era desenvergar as comportas e trocar as borrachas, o que não foi feito. Não precisaríamos ter nem 10% da inundação que tivemos”, afirmou o engenheiro Vicente Rauber, ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP).

“Deveriam fechar os furos e os vazamentos das comportas. Consertar os furos e tentar religar as casas de bomba. Estamos num círculo vicioso: as casas de bomba não funcionam porque foram inundadas e a água não sai porque não tem bomba funcionando”, disse Rauber.

“O sistema é simples, tradicional e eficiente. Basta manter as casas de bomba funcionando para tirar a água da cidade”, apontou Augusto Damiani, engenheiro civil e ex-diretor-geral do DEP e do DMAE.

Prefeitura nega falta de manutenção

O DMAE informou que 11 das 23 bombas estão funcionando e que as demais estão sendo consertadas. No auge da inundação, 19 pararam por problemas elétricos ou inundação. Moradores das áreas central e norte da cidade ainda sofrem com as consequências da enchente.

“Estamos trabalhando para religar as casas de bomba. Durante o último temporal, nenhuma saiu de operação. Estamos trabalhando incansavelmente para colocar todo o sistema em operação o mais rápido possível”, disse o DMAE.

Em entrevista, o prefeito Sebastião Melo negou a falta de manutenção e atribuiu a falha ao design do sistema. “Esse sistema foi concebido de um jeito e nunca foi modificado. Ele nunca tinha sido testado com um fenômeno da magnitude que aconteceu”, afirmou.

“Essa tragédia poderia ter ocorrido em qualquer cidade brasileira, porque não estamos preparados para o novo normal climático. O Brasil precisa pensar em adaptações para grandes cidades”, concluiu Melo.