Quando Toffoli, o “amigo do amigo”, fecha as cortinas do STF – e o Congresso, o povo e a decência nacional se fingem de mortos
Por José Sidney Andrade dos Santos
Filósofo e Sociólogo
O Brasil de 2025 é uma caricatura trágica de si mesmo. Um banqueiro acusado de roubar 17 bilhões de reais – valor suficiente para construir 40 hospitais de ponta ou pagar o Bolsa Família por dois anos inteiros – tem seu processo escondido atrás de um sigilo de guerra nuclear por Dias Toffoli, o mesmo que posou sorridente em Londres num evento pago exatamente pelo banco do réu. Enquanto isso, avós que rezaram um terço na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro seguem apodrecendo em masmorras federais, sem julgamento definitivo, tratados como terroristas de Al-Qaeda. E o que faz o Congresso? Aprova em comissão, discursa no Twitter, depois corre para o coquetel com o mesmo STF que os humilha diariamente. E o povo? A maioria ainda discute se o problema é “polarização” ou “falta de diálogo”, como se estivéssemos diante de um desentendimento de condomínio e não de um golpe institucional em curso, televisionado e aplaudido.
I – O STF: A CORTE QUE SE COLOCOU ACIMA DE DEUS E DA CONSTITUIÇÃO
O Supremo Tribunal Federal há muito deixou de ser uma corte constitucional para se transformar numa junta monárquica absoluta, só que pior: reis pelo menos assumiam a coroa. Aqui, onze senhores de toga decidem quem pode roubar bilhões e sair de tornozeleira VIP, quem deve ficar preso por postagem no Facebook e quem pode censurar jornais inteiros porque “ofendeu a honra” de um ministro. Toffoli não inventou o sigilo máximo no caso Vorcaro por pudor jurídico; inventou porque pode. Porque ninguém o impede. Porque o STF já decidiu que a Constituição é apenas uma sugestão quando incomoda os amigos dos amigos dos amigos.
E o mais grotesco: eles fazem isso em nome da “defesa da democracia”. Democracia onde um ministro pode calar um deputado, prender um jornalista, soltar um doleiro e ainda receber mesada indireta de banqueiro investigado – tudo no mesmo semestre. Isso não é democracia. Isso é cleptocracia togada com verniz institucional.
II – O CONGRESSO NACIONAL: A MAIS CARA CASA DE TOLERÂNCIA DA AMÉRICA LATINA
O Congresso brasileiro é o maior exemplo de prostituição institucional da história republicana. 513 deputados e 81 senadores recebem salários de marajá, verbas secretas, emendas de bilhões e, em troca, entregam o que? Silêncio. Covardia. Cumplicidade. Têm nas mãos a PEC das Decisões Monocráticas, a PEC do Foro Privilegiado, a regulamentação do abuso de autoridade judicial, o impeachment de ministros que cometem crime de responsabilidade todo santo dia. E fazem o quê? Engavetam. Porque sabem que, se mexerem no vespeiro, amanhã terão um inquérito de ofício aberto por “ameaça à democracia”.
Hugo Motta (presidente da Câmara dos Deputados) e Davi Alcolumbre (presidente do Senado Federal) são os atuais cafetões-mores dessa casa de tolerância. Posam de líderes, discursam contra “ativismo judicial”, mas na hora de pautar qualquer coisa que realmente limite o STF, desaparecem para “articular”. Articular o quê? A própria sobrevivência política às custas da nação. São tão inúteis que até o Centrão já perdeu a vergonha de admitir: “Se mexer no Supremo, eles nos prendem”. Prendem mesmo. E o Congresso aceita de joelhos.
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III – O POVO: ANESTESIADO, ENTRETENIDO E CÚMPLICE
E o pior de tudo: o povo brasileiro ainda não entendeu porra nenhuma.
Metade acha que o problema é “o Bolsonaro”, a outra metade acha que é “o Lula”. Nenhum dos dois lados percebe que os dois já foram engolidos pelo mesmo sistema que agora tem nome e sobrenome: Supremo Tribunal Federal + Congresso vendilhão + grande imprensa domesticada. As pessoas ainda brigam por time de futebol político enquanto o país é saqueado em tempo real. Postam meme, fazem panelaço virtual, choram no WhatsApp e no dia seguinte voltam a pagar 70% de imposto para sustentar a orgia da casta.
O brasileiro médio de 2025 é o seguinte:
sabe o nome dos 11 jogadores do Flamengo;
não sabe o nome de 3 ministros do STF que decidem a vida dele;
acha que “instituições estão funcionando” porque o Jornal Nacional disse;
paga a conta do rombo do Banco Master com aumento de juros e inflação;
e ainda tem a cara de pau de chamar manifestante do 8/1 de “golpista” enquanto o verdadeiro golpe acontece todo dia, ao vivo, na sessão plenária do STF.
Esse é o nível de anestesia cívica. Um povo que prefere Netflix e churrasco de domingo a descer à rua e exigir o fim dessa pouca-vergonha. Um povo que aceita ser tratado como gado porque, no fundo, acha que “sempre foi assim”.
IV – CONCLUSÃO: OU REAGIMOS, OU VIRAMOS VENEZUELA COM AR CONDICIONADO
O caso Vorcaro-Toffoli é apenas o sintoma mais podre de uma doença terminal: a captura total do Estado brasileiro por uma oligarquia de toga que não presta contas a ninguém, protegida por um Congresso de covardes e aplaudida por um povo anestesiados.
Se isso não for revertido – e revertido já – o Brasil de 2030 será uma ditadura de robe com democracia de fachada, onde quem tem amigo no STF rouba bilhões e sai impune, e quem ousa protestar sem bilhões no bolso apodrece na cadeia.
Chega de conversinha mole de “diálogo institucional”. Ou o povo acorda e cobra – nas ruas, nas urnas, com desobediência civil se necessário – ou aceita de vez virar colônia de onze senhores intocáveis.
A escolha é simples: ou ressuscitamos a República, ou enterramos de vez o que sobrou dela.
José Sidney Andrade dos Santos











