Por Eduarda Dejan
Em menos de 20 dias, o combustível teve um aumento de R$ 0,50 nos postos de gasolina da capital. O litro, que no início de março custava R$ 5,15 agora, chega a R$ 5,66 em alguns postos. O cenário traz consequências em alguns setores do comércio. Para microempresários do ramo alimentício, por exemplo, a solução é repassar o acréscimo para o cliente, o que nem sempre agrada a clientela.
“Abalou muito o meu comércio porque a mercadoria com aumento eu repasso pro cliente, não tem o que fazer. Tá muito difícil a situação para gente trabalhar”. O relato é de Lourival Moreira Gomes, 70 anos, conhecido como Chapelão, por causa do acessório fielmente utilizado pelo feirante. Seu Lourival saiu do Ceará aos 10 anos de idade para morar no Pará. Morador da Capital de Rondônia há mais de 30 anos, seu Lourival veio para Porto Velho com o intuito de começar uma vida melhor, e viu no comercio, uma boa oportunidade. Com a profissão, o comerciante fala que já conquistou muitos bens materias, mas conta que tem medo de não gerar o capita de giro para o próximo ano.
Na bomba
Há alguns dias acompanhamos, principalmente, a população da região norte questionar sobre o aumento dos preços dos combustíveis na bomba, principalmente da gasolina. Mês passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encaminhou ao congresso um projeto para reduzir em 10% o valor na bomba com alteração do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). O problema é que em Rondônia e Acre o ICMS não aumentou e nem diminuiu, continuando na margem dos 26% de tarifação. “Existem também outros impostos federais como a Cide, que é a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, e a taxa cobrada pelos transportes pela Petrobras, e tem também, lógico, a margem de lucro pelo transportador e a margem de lucro dos postos de gasolina”, explica o Economista Francisco Aroldo Vasconcelos, Conselheiro Estadual do Coreon/RO (Conselho de Economia de Rondônia).
Para Vasconcelos, a oscilação acontece porque o petróleo está dolarizado desde 2017, acompanhando assim o preço dolarizado do barril de petróleo no comércio internacional. Apenas a petroleira mudando a política de aplicação do preço de compra e venda do barril de petróleo é que pode diminuir os preços, como já aconteceu em outros momentos no país”.
Disparada
O reflexo da disparada do valor da gasolina já refletiu na venda de lanches do pequeno comerciante local. “Eu tenho perdido muitas vendas porque estou sem motoboy. O boy que fazia corrida pra mim desistiu e foi procurar um trabalho fixo, porque não compensa mais pra ele fazer corrida por R$ 5,00 a entrega. E daí não é só a gasolina, tem o pneu, tem que trocar o óleo, às vezes é uma correia que estraga e tem que trocar e o valor disso tudo também aumentou. Agora estou usando aplicativo e eles não cobram barato. Muitas vezes eles cobram no valor da entrega o mesmo preço de um lanche meu, daí o cliente não quer pagar”. O desabafo é do pequeno comerciante local, Saturnino Neto, 40 anos, que trabalha há pouco mais de um ano meio com venda de lanche artesanal na capital de Rondônia e tem recorrido ao movimento das redes sociais para dar mais engajamento às vendas.
Custo de vida
“É fato que em abril, maio, até junho a economia local – isso inclui cidades e campo – tenha registrado um aumento no custo de vida. Porque os comerciantes, as prestadoras de serviço, as transportadoras, à medida que os preços foram de acordo com o dólar, que tem oscilado desde janeiro, vão continuar precisando fazer o repasse para a população”, explana o economista Francisco Aroldo Vasconcelos.
Reféns do mercado internacional, o país segue sem perspectiva para a redução de preços que dependem direta e indiretamente da Petrobras. “se a gente pegar agora, só estamos finalizando o terceiro mês do ano de 2021, nós já tivemos vários aumentos do combustível, da gasolina, do óleo diesel. Então só de gasolina nós já tivemos seis aumentos, no diesel cinco aumentos e mais uma quantidade de aumentos no gás de cozinha e também outros aumentos no etanol, mas que não faz parte dessa política que nós acabamos de falar. Mas de forma geral, já tivemos um aumento nos combustíveis de mais 50% e é claro que esse aumento, vai de alguma forma refletir nos bens e serviços ofertados ao mercado para o consumidor final.” Conclui Otacílio Moreira de Carvalho, professor de economia da Universidade Federal de Rondônia.
Por enquanto não há nenhum panorama para a redução da aplicação do ICMS, o estado também não deve deixar de arrecadar. “Se nada mudar o jeito vai ser sobreviver da minha aposentadoria, é pouca, mas fome eu não passo. O que eu não posso fazer é tirar dinheiro do meu bolso pra manter isso aqui e acabar desperdiçando alimento que não é vendido” desabafa seu Lourival que aguarda com esperança, não precisar fechar as portas no próximo ano.
