Após um mês de viagem e um período encalhado em frente à Turquia, o navio que transportava cerca de 3 mil vacas do Uruguai desembarcou os animais na Líbia. O Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai considerou o desembarque como o “fechamento definitivo” do incidente.
Investigações e Denúncias
No entanto, ambientalistas expressam preocupação com dezenas de mortes de animais durante a viagem e a possibilidade de que cadáveres tenham sido lançados ao mar, exigindo uma investigação internacional. A Fundação para o Bem-Estar Animal (AWF) declarou, em 25 de novembro, que não há “informações confiáveis” sobre o estado sanitário dos bovinos ao chegarem à Líbia, e solicita uma apuração detalhada.
A carga com 2.901 bovinos deixou Montevidéu em meados de setembro. Em 21 de outubro, o navio chegou à costa da Turquia, onde sua entrada foi bloqueada devido a inconsistências nos certificados sanitários. O governo uruguaio atribuiu o problema a um desacordo entre o exportador e o importador, e informou que tentaria o retorno do navio ao Uruguai, buscando, porém, uma realocação do gado para outro destino.
O Uruguai, com 3,5 milhões de habitantes e 12 milhões de cabeças de gado, tem na produção pecuária, agrícola e florestal sua principal fonte de renda.
Relato da ONG
A AWF pediu, em 24 de novembro, uma investigação “imediata” pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e pela Organização Marítima Internacional (OMI) para avaliar o estado dos bovinos, que passaram mais de dois meses em condições precárias a bordo. Maria Boada Saña, veterinária da AWF, alertou que o caso representa “uma das violações mais graves da proteção marinha e do bem-estar animal registradas nos últimos anos”, e um exemplo do fracasso do transporte de animais vivos por via marítima.
A ONG solicitou informações sobre o destino das vacas mortas durante a viagem, levantando a possibilidade de que tenham sido descartadas no mar. Também mencionou suspeitas sobre o desligamento dos sistemas de localização do navio por vários dias da semana passada, e lembrou que a Líbia possui um histórico de problemas ambientais.
Versão da Empresa
Fernando Fernández, diretor da Ganosan, empresa uruguaia responsável pela venda, declinou comentar o caso à AFP. Anteriormente, em declarações a meios de comunicação locais, descreveu a situação como um “calvário” devido ao bloqueio sofrido na Turquia. Ele relatou que o importador solicitou um novo certificado para entrar com o gado no Marrocos, solicitando sigilo para evitar a concorrência.
Fernández explicou que a chegada final à Líbia foi uma surpresa, pois o país não possui protocolos de exportação de gado vivo com o Uruguai. Ele defendeu que a empresa cumpriu suas obrigações e que o negócio foi finalizado com o pagamento e embarque dos animais.
O governo uruguaio afirmou que o incidente não compromete a confiabilidade sanitária do país, e que reforçou o acompanhamento técnico e diplomático, priorizando o bem-estar animal e a relação bilateral com a Turquia. O Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca informou que continuará monitorando as informações sobre a viagem e eventuais perdas.











