Em tempos de paz, não faz sentido – mesmo para navios de guerra – correr o risco de navegar em meio a um furacão. Por este motivo é que os navios USS Iwo Jima, USS Fort Lauderdale e USS San Antonio, além de 3 contratorpedeiros com sistema Aegis, um submarino nuclear e aeronaves de vigilância deixaram na quinta-feira (21) as proximidades das águas territoriais da Venezuela. Diante da ameaça do furacão Erin, que atingiria a categoria 5 neste final de semana, as embarcações norte-americanas seguiram rumo à base de Norfolk, na Virgínia.
A frota está sob comando do USS South Com (Comando Sul dos Estados Unidos), que compõem a 4ª Frota dos Estados Unidos. No caso, este é o destacamento da Marinha que cobre o Caribe, América Central, do Sul e águas circundantes. Um fato curioso sobre esta frota é que ela não tem navios fixos. Então, neste caso, os navios Iwo Jima, Fort Lauderdale e San Antonio foram integrados a essa “jurisdição” exatamente para esta operação na Venezuela, que deve ser retomada no domingo, após a passagem do Erin.

O que se pode concluir com isso é que o plano de Trump – por mais que algumas pessoas gostem de dizer – não é fruto de uma decisão temperamental do presidente dos Estados Unidos. Deslocar navios não é algo que se decida do dia para a noite. Talvez por isso que a Marinha dos EUA tenha dado uma dica sobre isso em uma recente postagem nas redes sociais afirmando que “discutir estratégia” seria para amadores, enquanto profissionais “discutem logística”.
Os três contratorpedeiros e o submarino nuclear que foram designados para a missão integraram-se nos últimos dias, juntamente com aeronaves de vigilância. Estas últimas são ferramentas essenciais para as embarcações de guerra, pois garantem o controle do que ocorre no ar e no mar ao redor das forças integradas.

Diante disso, é bem realista concluir que Trump esteja mostrando ao mundo que trabalha em multiprocessamento. Ao mesmo tempo em que está voltado à guerra comercial com boa parte do planeta (uma guerra justa, já que os produtos norte-americanos são fartamente sobretaxados em vários países desde sempre), e também conduzindo esforços para conseguir um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, ele vem colocando em prática uma promessa de campanha: enfrentar a ameaça do narcotráfico aos Estados Unidos.
E essa operação não se resume ao deslocamento de navios, submarino e tropas Caribe abaixo. Trump aumentou a recompensa pela prisão de Nikolas Maduro, de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões. O valor está bem abaixo ainda do que Erik Prince, o fundador da Blackwater (empresa de exércitos mercenários que atuou no Iraque, no Afeganistão e vem enfrentando piratas na Somália) pediu para fazer o serviço: US$ 100 milhhões.
A proposta de Prince é razoável, considerando que ele mesmo sugere de onde viria o dinheiro: poderia ser subtraído do total de mais de US$ 700 milhões em dinheiro e propriedades que os EUA já apreendeu da Venezuela nos últimos anos. Mas enquanto o fundador da Blackwater não consegue a autorização para receber a bolada, ele vem fechando negócios em países bem próximos da Venezuela.
Prince fechou negócio com o Haiti, para enfrentar as gangues de narcotraficantes que assolam o país; fechou com o Equador; com El Salvador e está conversando com o governo do Peru. Os serviços: treinar forças policiais e para militares para enfrentar o narcotráfico. No Haiti, homens de Prince controlando drones mataram 300 integrantes de gangue e deixaram 400 feridos em recente operações.
A uma primeira vista – com certeza mesmo de olhar de forma bem aprofundada – a impressão que se tem é que não existem coincidências. Da mesma forma que a composição da 4ª Frota sob o comando do USS South Com não foi feita na correria, o mesmo pode ser dito sobre a aproximação de Erik Prince do Caribe e das américas Central e Latina. Principalmente quando ele mesmo afirma que vem trabalhando para garantir que Maduro seja detido.
Então, se coincidências não existem, não seria leviandade imaginar que as forças mercenárias de Erik Prince venham a ser a infantaria que os EUA venham a usar – não de forma aberta – na missão de acabar com a boa vida de Nikolas Maduro na Venezuela. Os contratos de Prince prevêm a utilização de forças mercenárias dos EUA, Europa e da América Latina – estes últimos, ex-policiais e ex-militares da Colômbia, Equador, El Salvador, Peru e… Venezuela.
Não seria de surpreender que o PCC, grande parceiro de negócios do narcotráfico venezuelano, esteja prestando muita atenção em tudo que esteja acontecendo. E torcendo – junto com Maduro – para que a temporada de furacões no Caribe seja muito atribulada este ano.