O Theatro da Paz, em Belém, recebeu entre os dias 11 e 14 de setembro uma representante do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), órgão associado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A visita faz parte da análise para incluir os “Teatros da Amazônia” – Theatro da Paz (PA) e Teatro Amazonas (AM) – na Lista do Patrimônio Mundial Cultural da Unesco.
A missão do Icomos, que durou oito dias, começou em Manaus, entre 7 e 10 de setembro, com a visita ao Teatro Amazonas. A iniciativa é do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em colaboração com os governos do Amazonas e do Pará, e as prefeituras das duas capitais.
Em Belém, a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal, acompanhou os trabalhos e destacou o compromisso do governo paraense com a preservação do patrimônio cultural. “Demonstrar como o Pará se dedica à manutenção do nosso patrimônio e a garantir o acesso da população a essa casa de espetáculos, que é a mais simbólica do nosso estado, é fundamental”, afirmou Ursula.
Durante a visita, foram apresentados os trabalhos dos corpos artísticos do Theatro da Paz, como a Amazônia Jazz Band e a Orquestra Sinfônica. A secretária ressaltou a importância de levar cultura a quem normalmente não teria acesso, reforçando o compromisso do estado com a valorização do patrimônio.
Em Belém, a equipe do Icomos dedicou quatro dias para analisar o Theatro da Paz e seus arredores: a Praça da República, o Parque João Coelho e a Praça da Sereia – área definida no dossiê da candidatura como zona núcleo. Também foram observadas ruas e outros locais que compõem a zona de amortecimento, conforme delimitado no dossiê entregue à Unesco em janeiro de 2025.
Foram analisados aspectos arquitetônicos, documentos históricos, acervos e realizadas reuniões com artistas, técnicos, produtores, educadores, agentes de turismo e representantes da sociedade civil. A representante do Icomos assistiu ao concerto “Jazz Sinfônico”, uma apresentação conjunta da Amazônia Jazz Band e da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz.
A representante do Icomos também visitou a ilha do Combu e a orla de Belém, observando a relação histórica da cidade com seus rios, um elemento essencial da paisagem, da cultura e da formação urbana paraense.
Em Manaus, a avaliação se concentrou no Teatro Amazonas e no Largo de São Sebastião, além de ruas e sítios do centro histórico. A equipe do Icomos avaliou o estado de conservação, a documentação e o papel do teatro na vida cultural da cidade.
Originalmente construídos como espaços de lazer para a elite no século XIX, os teatros se tornaram parte central da vida cultural de Belém e Manaus, sendo ressignificados ao longo do tempo. Atualmente, recebem espetáculos eruditos e expressões das culturas popular amazônica e brasileira.
Segundo Andrey Schlee, diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, o dinamismo dos teatros é crucial para a avaliação da candidatura. “Para ser Patrimônio Mundial, um bem precisa estar vivo e se manter atualizado. Os Teatros da Amazônia movimentam a economia criativa das duas cidades”, explicou Schlee.
Schlee ressaltou que a arquitetura dos prédios é apenas um dos atributos analisados. Ele destacou que, no século XIX, os teatros, com suas praças amplas, passaram a ocupar um lugar central nas cidades brasileiras, simbolizando a ascensão de uma nova classe social enriquecida pela exploração da borracha e influenciada pela cultura europeia.
Os teatros combinam elementos estéticos e materiais importados da Europa com matérias-primas e referências locais, como o uso de madeiras nativas, pisos com ladrilhos colados com cola de gurijuba (um peixe regional) e pinturas que retratam a fauna e a flora amazônicas.
A chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Iphan, Juliana Bezerra, enfatizou que a candidatura ampliará a representatividade cultural da Região Norte no cenário global. A Unesco já reconhece o complexo de áreas protegidas da Amazônia Central e o Círio de Nazaré como Patrimônio Mundial.
A recomendação oficial sobre a candidatura será apresentada à Unesco em março de 2026, com a avaliação final prevista para julho do mesmo ano.











