Novas técnicas têm o potencial de diminuir o impacto ambiental da produção de carne. Em série especial, o Jornal Nacional apresenta soluções para o setor em meio às mudanças climáticas.
A pecuária é responsável por 20% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil, o que coloca o país na posição de quinto maior emissor global, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima.
Captura de metano e dietas inovadoras
Pesquisadores da Embrapa, no Mato Grosso do Sul, estão desenvolvendo métodos para capturar o metano emitido pelo gado. O gás, liberado principalmente pelo arroto dos animais, corresponde a 64% das emissões do setor agropecuário brasileiro. A iniciativa envolve a utilização de equipamentos para coletar o gás, que é então analisado em laboratório.
“Não é exatamente um problema, mas é uma grande oportunidade para o Brasil. Porque ele está trabalhando em algo que vai posicionar o Brasil na fronteira, à frente do resto dos países do mundo em questão de produção sustentável de carne bovina”, afirma Rodrigo Gomes, pesquisador da Embrapa.
Além da captura do metano, estudos buscam a criação de suplementos alimentares que reduzam a produção do gás no organismo dos animais. Testes indicam que esses aditivos podem diminuir a emissão de metano em até 40%. Outra linha de pesquisa envolve a seleção de animais que naturalmente produzem menos metano.
Recuperação de pastagens e sistemas integrados
A recuperação de pastagens degradadas emerge como uma estratégia crucial. Estima-se que 60% das pastagens brasileiras apresentam algum grau de degradação. A adoção de práticas como a adubação do solo, o controle do número de animais por área e a rotação de culturas com lavouras de grãos, como soja e amendoim, são medidas eficazes para restaurar a saúde das pastagens.
Manuel Macedo, pesquisador da Embrapa, explica que a rotação de culturas pode aumentar o sequestro de carbono no solo. “Nós fizemos quatro anos: um ano de lavoura, três de pasto, um de lavoura, três de pasto. Então, isso aqui é um sistema que está rodando há 32 anos. E mais: aqui eu tenho cinco toneladas a mais de carbono até um metro de profundidade do que lá na vegetação natural do Cerrado”, afirma.
Em São Paulo, a fazenda da pecuarista Carla Namour já produz carne com baixo teor de carbono, destinada à COP30. A certificação exige o cumprimento de 67 critérios, incluindo aspectos relacionados ao solo, legislação ambiental, bem-estar animal e idade de abate dos animais.
Silvipastoril e o futuro da pecuária
O sistema silvipastoril, que combina a criação de gado com o plantio de árvores, surge como uma alternativa promissora para a produção de carne carbono neutro. Embora a produtividade do pasto possa ser reduzida sob a sombra das árvores, a receita gerada pela venda da madeira pode compensar essa perda.
A Embrapa estima que a recuperação de pastagens tem o potencial de mitigar metade das emissões de gases do efeito estufa da pecuária. A pecuária é essencial para a economia brasileira, presente em todos os municípios e responsável por grande parte da renda de pequenos produtores.
Na quarta-feira (8), o Jornal Nacional abordará os impactos das mudanças climáticas na produção de café no Brasil.
