Negociadores do Brasil interpretam a decisão dos Estados Unidos de reduzir tarifas sobre parte das exportações brasileiras como um sinal político positivo, combinando fatores internos da economia americana com o andamento das negociações bilaterais. A medida representa a primeira flexibilização desde a imposição de tarifas adicionais em julho.
Pressão Inflacionária nos EUA
Para Abrão Neto, presidente da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), a alta da inflação foi um fator determinante para a mudança. “Com a alta de preços pesando sobre o consumidor americano, especialmente nos alimentos, o governo buscou formas de conter custos internos.”
Os 238 produtos liberados da tarifa de 40% estão majoritariamente ligados à cadeia agroindustrial americana, incluindo carnes bovinas e suínas, café, cacau, frutas tropicais, sucos, castanhas, alguns fertilizantes e insumos nos quais o Brasil é um fornecedor estratégico.
Impacto nas Exportações
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os itens contemplados na ordem executiva representam cerca de 37% das exportações do Brasil para os EUA. A maior parte dos embarques, especialmente de produtos industriais, ainda está sujeita às tarifas.
Frederico Lamego, diretor de Relações Internacionais da CNI, ressalta que setores como máquinas e equipamentos, móveis, couro, calçados, aviação, óleos e minerais continuam arcando com o adicional de 40%. Ele enfatiza a necessidade de avançar nas tratativas.
Avanço Diplomático
A ordem executiva também possui um componente diplomático, com referência ao processo de negociação com o Brasil – a primeira desde julho. Segundo Lamego, este gesto representa uma mudança no clima político entre os dois países. “Foi um gesto de boa vontade de Washington para o avanço das negociações comerciais com o Brasil.”
Abrão Neto, da Amcham Brasil, complementa que a medida responde a uma proposta apresentada pelo governo brasileiro, marcando a retomada de conversas que estavam paralisadas. O distensionamento político recente entre os dois países também contribuiu para a decisão.
Perspectivas Futuras
Apesar do avanço, a maior parte das exportações brasileiras permanece sujeita às tarifas. Os Estados Unidos aguardam uma proposta mais consistente do governo brasileiro, que vá além da discussão tarifária e aprofunde a integração e as contrapartidas.
João Henrique Gasparino, diretor executivo da NimbusTax, explica que o alívio tarifário não se aplica a todas as exportações brasileiras, apenas aos produtos listados na ordem executiva. Além disso, mesmo entre os produtos contemplados, o benefício é limitado, pois elimina apenas a sobretaxa de 40%, mantendo as tarifas de base, medidas antidumping e barreiras sanitárias.
Reações dos Setores
Setores como o de calçados e móveis, que não foram incluídos na lista de isenção, receberam a medida com cautela. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) vê um avanço no diálogo, enquanto a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL) considera a ordem executiva insuficiente para recuperar a previsibilidade e a competitividade do setor.









