O cuidado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ganhou um anúncio importante: o Ministério da Saúde lançou uma nova linha de cuidado que inclui a aplicação de testes para detectar sinais de autismo em todas as crianças de 16 a 30 meses atendidas na atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os profissionais da rede pública passam a aplicar, de forma rotineira, o teste conhecido como M-Chat, disponível na Caderneta Digital da Criança e no prontuário eletrônico E-SUS. A expectativa é que intervenções e estímulos possam começar antes mesmo do fechamento do diagnóstico. “A atuação precoce é fundamental para a autonomia e a interação social futura”, destacou o ministério em nota.
O governo estima que 1% da população brasileira viva com TEA. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 71% dessa população apresenta ainda outras deficiências, o que, de acordo com o ministério, reforça a necessidade de ações integradas via Sistema Único de Saúde (SUS).
Ferramentas facilitam diagnóstico precoce
Além da novidade no SUS, um avanço histórico na neurociência e na pediatria abriu no primeiro semestre de 2025 novas possibilidades para a primeira infância: a ferramenta de Avaliação EarliPoint™, primeiro dispositivo aprovado pela FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA) para auxiliar no diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em bebês a partir de 1 ano e 4 meses.
A tecnologia, que utiliza rastreamento ocular de alta precisão, marca um novo paradigma na forma como se identifica o autismo — antes mesmo dos 18 meses de vida, período em que as intervenções são mais eficazes para o desenvolvimento neurocognitivo.
O exame é simples: enquanto a criança assiste a um vídeo de aproximadamente 12 minutos, o sistema registra mais de 120 pontos focais por segundo. A ferramenta analisa como os olhos do bebê reagem a estímulos sociais em tempo real, comparando os dados a uma base robusta de referência com padrões típicos de desenvolvimento infantil.
O resultado é um relatório clínico detalhado e personalizado, que aponta indícios de autismo, o nível de engajamento social da criança e até aspectos de sua comunicação verbal e não verbal.
A importância da intervenção precoce
A intervenção precoce é um dos maiores aliados para o desenvolvimento das crianças com sinais de atraso no desenvolvimento, pois a primeira infância é o momento em que há uma maior plasticidade neuronal – capacidade do cérebro em criar novas conexões . Ela permite que profissionais capacitados, juntamente com a família, estimulem a criança a conquistar habilidades essenciais, prevenindo dificuldades futuras.
O Ministério da Saúde classifica a intervenção como precoce quando ocorre na primeira infância (de 0 a 6 anos). Nesse período, o cérebro infantil apresenta alta neuroplasticidade, o que facilita a aprendizagem e o desenvolvimento quando os estímulos são adequados.
Estudos, como os publicados no Journal of Autism and Developmental Disorders, mostram que intervenções precoces podem melhorar em até 40% os resultados cognitivos e adaptativos. Crianças que recebem os cuidados e estímulos certos desde cedo têm mais chances de desenvolver habilidades fundamentais, como comunicação, interação social e independência.
“Intervenção comportamental, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e suporte educacional são fundamentais para o desenvolvimento das crianças com TEA. Essas terapias ajudam na construção de habilidades essenciais para a independência e inclusão social. Quando as intervenções são adiadas ou inexistem, as crianças podem enfrentar barreiras significativas em áreas como educação, emprego e relacionamentos”, afirma a Conselheira Clínica da Genial Care, rede de cuidado de saúde atípica especializada em crianças autistas e suas famílias, Alice Tufolo.
Para as famílias, o diagnóstico pode gerar muitas emoções, como insegurança e ansiedade, especialmente sobre o futuro da criança. De acordo com um estudo da Genial Care em parceria com a Tismoo.me, 79% dos cuidadores de crianças com autismo expressam grande preocupação com o que está por vir após o diagnóstico.
“As apreensões podem ser relacionadas tanto ao futuro dessa criança, principalmente em relação à independência e autonomia, quanto de modo mais imediato quais terapias realizar, visto a quantidade de informação que hoje existe a disposição. É relevante, assim sendo, que a família tenha profissionais de confiança que trabalhem com práticas baseadas em evidências para melhor suporte e direcionamento nesse momento inicial.” conclui Alice Tufolo.