A seca severa de 2023 e as temperaturas recordes, que chegaram a 41°C, causaram um superaquecimento nos lagos amazônicos, levando à morte de pelo menos 209 botos-vermelhos e tucuxis em menos de dois meses. A situação preocupante é detalhada em um estudo publicado na revista científica Science, com a participação de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Mamirauá.
De acordo com a pesquisa, a combinação de fatores como baixa velocidade do vento, pouca profundidade da água, alta turbidez, forte radiação solar e pouca cobertura de nuvens contribuiu para o aumento drástico da temperatura da água. Em alguns lagos, como o de Tefé (AM), a temperatura ultrapassou os 40°C em toda a coluna d’água por vários dias – um nível nunca antes registrado em águas interiores tropicais.
O estudo explica que, com a seca, os lagos perderam a capacidade de oferecer refúgio térmico para as espécies aquáticas. A água quente, além de causar estresse térmico direto, reduz a quantidade de oxigênio dissolvido, agravando a situação para peixes e outros animais que dependem desse ambiente.
“Em Tefé, toda a coluna d’água atingiu temperaturas acima de 40°C, sem qualquer camada mais fria para servir de refúgio. Isso submete os peixes a temperaturas letais contínuas”, explica o pesquisador do Inpa e coautor do artigo, Adalberto Luis Val.
A alta turbidez da água, intensificada pelos baixos níveis e pela falta de vento, também contribuiu para o aquecimento, pois a energia do sol é absorvida no primeiro metro de profundidade. A falta de nuvens durante boa parte do período também aumentou a radiação solar.
Análises de dados de satélite de 24 lagos amazônicos entre 1990 e 2023 mostram que a temperatura da água tem aumentado gradualmente, em média 0,6°C por década, chegando a 0,8°C em alguns lagos. Eventos de aquecimento acima da média têm se tornado mais frequentes, indicando uma tendência preocupante.
O aquecimento extremo da água teve impactos significativos na vida aquática, causando a morte de botos e peixes, além de forçar o deslocamento de populações para outros rios. A escassez de água e alimentos também afetou as comunidades ribeirinhas que dependem dos rios, lagos e igarapés para sobreviver.
Para monitorar a situação e entender melhor o impacto das mudanças climáticas, o projeto Lagos Sentinelas da Amazônia, coordenado por Ayan Fleischmann, busca analisar as dinâmicas e desafios socioambientais em cinco lagos da região. O projeto envolve diversas instituições e a participação de comunidades locais.
A pesquisa reforça a importância do monitoramento contínuo dos lagos amazônicos para entender e mitigar os efeitos das mudanças climáticas na região.











