Imigrante morreu no deserto quatro meses antes de realizar o sonho de ser avó de uma menina: ‘Fazia muitos planos’, lamenta a filha

peixe-post-madeirao-48x48

Imigrante morreu no deserto quatro meses antes de realizar o sonho de ser avó de uma menina: ‘Fazia muitos planos’, lamenta a filha

peixe-post-madeirao

Lenilda dos Santos tentava chegar aos Estados Unidos ilegalmente e morreu após ser abandonada pelos amigos de infância com quem viajava. Filha da imigrante rondoniense está grávida de cinco meses e em uma das últimas conversas com a mãe contou que o bebê é uma menina. Lenilda dos Santos morreu quatro meses antes de realizar o sonho de ser avó de uma menina.
Redes Sociais/Reprodução
Lenilda dos Santos morreu aos 49 anos, quatro meses antes de realizar o sonho de ser avó de uma menina. O corpo da imigrante rondoniense foi encontrado no deserto, onde tentava cruzar a fronteira do México com os Estados Unidos ilegalmente, após ser abandonada pelos amigos de infância com quem viajava.
Uma das filhas da técnica de enfermagem, Genifer Oliveira, contou ao G1 que está grávida de cinco meses e em uma das últimas conversas que teve com a mãe contou que ela ia ser avó de uma menina.
“Ela queria tanto que fosse uma menina para encher ela de lacinhos, fazia muitos planos”.
Em um dos áudio enviado à filha, Lenilda comemora a novidade e, apesar de estar distante, prometia “enviar várias roupinhas bonitas” para a bebê.
Áudio enviado por Lenilda dos Santos, de 49 anos, sobre neta
“É um sofrimento que parece que não vai acabar nunca…”
Genifer conta que agora a família tenta trazer o corpo da mãe para Rondônia com a intenção de fazer um velório e sepultamento digno. No entanto, as despesas com a documentação e translado custam aproximadamente R$ 120 mil.
Além disso, todo o processo pode demorar até três meses para ser concluído e eles finalmente receberem o corpo de Lenilda. As duas filhas da mulher criaram uma vaquinha online para tentar arrecadar o dinheiro das despesas.
Sonhos frustrados
Lenilda já tinha morado nos EUA há 10 anos e decidiu voltar no início de 2021 após receber a informação de que a fronteira iria ficar aberta por 100 dias. Porém, ela acabou ficando detida por três meses na imigração do país até ser deportada de volta para o Brasil.
O objetivo dela em ir até outro país era garantir melhor qualidade de vida para a família e pagar a faculdade de direito das filhas. Por estes motivos, estava disposta a abandonar a carreira de técnica em enfermagem no Brasil e exercer outra profissão no exterior.
“Ela falou: “eu quero terminar de pagar a faculdade de vocês para vocês serem alguém na vida porque eu decidi salvar vidas, mas infelizmente eu não tenho retorno””, conta Genifer.
Foi com essa motivação que, no dia 13 de agosto, Lenilda voltou a tentar entrar nos EUA, dessa vez através de uma coiote — pessoa paga para conduzir imigrantes ilegalmente pelas fronteiras. “E daí, infelizmente, nessa volta a gente perdeu ela”.
A mulher estava acompanhada de três amigos que conhecia desde a infância.
“Ela esperou o resto da noite e ninguém voltou pra buscar…”
Vídeo mostra localização de brasileira no deserto dos EUA
Após vários dias parado no México, o grupo começou a atravessar o deserto dia 6 de setembro, mas já no dia seguinte, Lenilda estaria muito debilitada por conta do cansaço, sede, calor e fome. A filha conta que ela chegou a desmaiar de mal estar.
Em vários áudios enviados aos familiares, Lenilda comentava que o grupo decidiu seguir viagem sem ela, mas prometeram que iriam voltar para buscá-la. No entanto, ela já foi encontrada morta na última quarta-feira (15) por uma empresa contratada pelos familiares. A família acredita que a mulher morreu de sede e fome, cerca de um mês antes de completar 50 anos.
“O mínimo que a gente esperava deles [as pessoas que viajavam com Lenilda] é que eles chegassem com ela até uma parte da estrada e direcionasse ela, tipo assim ‘aqui é a imigração, se entrega, acaba de se entregar porque pelo menos você não vai morrer’. E eles não fizeram isso, eles colocaram ela num canto do deserto, deixaram lá, não acionaram a polícia, não fizeram nada e simplesmente foram embora”, desabafa Genifer.
Antes de parar de responder as mensagens no WhatsApp, ela compartilhou a localização de onde estava e enviou um áudio com a voz bem rouca pedindo para alguém levar água quando fosse buscá-la, pois não estava mais “aguentando a sede”.
Áudio enviado para familiares antes de imigrante brasileira morrer no deserto dos EUA
“Ele simplesmente disse que lamentava”
Segundo Genifer, as pessoas que viajavam com Lenilda conseguiram chegar ao destino final. Quando a família entrou em contato com um deles para saber o que tinha acontecido, ele teria dito que lamentava o ocorrido.
“Hoje ele está lá, vai realizar o sonho dele e minha mãe está morta, infelizmente”, lamenta.
“Não é a primeira e não vai ser a última”
A filha de Lenilda falou sobre o processo de imigração ilegal em busca de melhor qualidade de vida, apesar da situação socioeconômica em que o Brasil se encontra.
“Infelizmente no nosso país todas as profissões estão muito desvalorizadas na questão financeira, então tem muita gente procurando melhoria em outros países porque realmente tá muito difícil de viver”, desabafa.
Apesar das dificuldade, Genifer alerta que o processo é muito perigoso e é muito difícil ter alguém em quem confiar para decidir correr o risco.
“Minha mãe achava que ela tinha três pessoas que eram amigos de infância dela que iam ajudar ela em momento difícil, e infelizmente não aconteceu”.
Veja mais notícias de Rondônia