Na Reserva Extrativista Lago do Cuniã, a vida se entrelaça com a existência de milhares de jacarés, revelando uma convivência única e sustentável.
A convivência entre humanos e natureza sempre carrega histórias de respeito mútuo e adaptação. Em Rondônia, na Reserva Extrativista (RESEX) Lago do Cuniã, localizada no Baixo Madeira, em Porto Velho, essa relação ganha contornos distintos com a presença de cerca de 36 mil jacarés que compartilham o espaço com a comunidade local.
A Naturalidade do Convívio
A aglomeração de jacarés, provocada pela seca severa que assola o Norte do país, pode parecer uma cena de outro mundo para muitos, mas é uma realidade cotidiana para os moradores da reserva. Jorge Lopes, um residente de longa data, expressa uma visão de coexistência que ressoa entre a comunidade:
“Eles estão no espaço deles, nós (moradores) que somos os invasores desse lugar. Por isso temos que respeitá-los”, ele compartilha.
Segurança e Prevenção
A segurança é uma prioridade, especialmente em uma área onde a natureza dita as regras. As orientações de segurança, como o uso de coletes e a prevenção contra perturbações aos jacarés, são incutidas desde cedo, permitindo que as crianças, por exemplo, atravessem o lago diariamente para chegar à escola sem incidentes, conforme explicado por Fernando Estevão, diretor da escola Municipal Francisco Braga.
Manejo Sustentável
O equilíbrio entre a natureza e a sobrevivência é mantido através de um programa de manejo sustentável dos jacarés, iniciado em 2011 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Este projeto, calcado em estudos populacionais e reprodutivos, define cotas de abate, contribuindo tanto para o equilíbrio ecológico quanto para a economia local.
O manejo sustentável é uma resposta pragmática que beneficia tanto os moradores quanto a fauna local, garantindo um equilíbrio na cadeia alimentar e na segurança da comunidade, especialmente dos pescadores.
A Reserva
A RESEX Lago do Cuniã, estabelecida em 1999, é um refúgio de biodiversidade, com suas 63 lagoas nomeadas, onde as famílias dependem da pesca, agricultura, extrativismo e manejo dos jacarés para subsistência. Este cenário proporciona uma janela para um modo de vida que respeita os ritmos da natureza, mantendo uma convivência harmoniosa com os jacarés, os verdadeiros habitantes ancestrais dessa terra.