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“Nasci com uma câmera de cinema em cima de mim”. Era assim que o amazonense Roberto Kahane, um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro, descrevia sua paixão pela sétima arte.
O diretor, escritor e cineasta faleceu em Manaus na última sexta-feira (3), aos 77 anos, vítima de um infarto, deixando um vazio na cena cultural, principalmente no Amazonas.
Nascido em 7 de setembro de 1948, Roberto cresceu em meio ao hobby do pai, Dr. Salim Kahane, e logo trocou brinquedos por filmes e equipamentos. Desde cedo, o cinema se tornou parte de sua vida.
Nos anos 1960, ele integrou o movimento cineclubista de Manaus, que revolucionou o cinema local. Junto com Joaquim Marinho e Aurélio Miquiles, ajudou a garantir espaço para a crítica cinematográfica, a produção de curtas e a realização de festivais.
Suas primeiras experiências foram com produções coloridas em película de 8mm, algo inovador para a época. Em 1966, no 1º Festival de Cinema Amador do Amazonas, lançou três curtas-metragens.
Em 1969, recebeu o prêmio de Melhor Curta-Metragem no I Festival Norte do Cinema Brasileiro com a obra “A Coisa Mais Bela que Existe ou a trajetória de um seringueiro”. Esse reconhecimento possibilitou a produção de seu primeiro curta em 35mm, “Manaus”, que retratava a arquitetura da cidade e o ciclo da borracha.
Ao longo de sua carreira, Roberto Kahane produziu mais de 40 obras e participou de diversos projetos audiovisuais, sempre com o objetivo de unir crítica social, estética experimental e valorização do cinema independente local. Entre seus trabalhos, destacam-se “Como Cansa Ser Romano nos Trópicos” (1969) e “Noites sem Homem” (1974).
Kahane também foi fundamental para resgatar o acervo de Silvino Santos, cineasta português pioneiro na Amazônia. Produziu “Fragmentos da Terra Encantada”, “1922, A Exposição da Independência”, “Vale Quem Tem” e “A Propósito do Futebol”, que mostram a vida no Rio de Janeiro e em Manaus nos anos 1920.
Nas décadas de 1980 e 1990, dedicou-se à televisão amazonense, produzindo programas de sucesso ao lado de sua esposa, Norma Araújo. Programas como “Via de Regra” e “Programa da Norma” ficaram marcados na memória do público local.
Em 2023, finalizou “Robert Kahane e a Câmera do Dr. Salim”, um documentário póstumo de Jean Robert Cézar que retrata a relação de Roberto com o pai e sua paixão pelo cinema, através de um acervo fílmico guardado por décadas.
Nos últimos anos, Roberto recebeu diversos homenagens, incluindo uma mostra com seus filmes no Cine Teatro Amazonas em 2019. Em 2023, o Cineclube de Arte também o homenageou com uma exibição de suas obras.
Seu último trabalho foi o documentário “Etelvina Garcia: A memória Viva”, lançado em maio de 2025, que apresenta a trajetória da pesquisadora, jornalista e historiadora amazonense.
Com mais de cinco décadas dedicadas ao cinema, Roberto Kahane deixa um legado inspirador para as futuras gerações de cineastas e produtores audiovisuais do Amazonas.











