Os rituais indígenas são expressões ancestrais que celebram a vida, os costumes e a profunda conexão entre os povos originários e o mundo espiritual e natural. Essas práticas, repletas de danças, pinturas corporais e adoração aos deuses, envolvem toda a comunidade.
No interior do Maranhão, a etnia Akroá-Gamella celebra anualmente, no dia 30 de abril, o Ritual de Bilibeu. A festa consiste em uma caminhada coletiva por todo o território, em agradecimento a São Bilibeu, o santo que garante a fertilidade da terra e a proteção ao povo.
Quem é Bilibeu?
Bilibeu, também conhecido como Bilibreu ou Orácio, é uma figura central na cultura Akroá-Gamella, representando fertilidade e resistência pela terra. A lenda conta que ele foi encontrado durante uma queimada em terras do povo, sendo desde então considerado o protetor, o curador e o responsável pela fertilidade das mulheres.
Como acontece o Ritual de Bilibeu
O ritual começa com a busca e o levantamento de um mastro enfeitado com frutas e uma bandeira no topo. Em seguida, a comunidade define quem serão a onça, o gato-maracajá e o cachorro-chefe, responsáveis pela “corrida dos cachorros de Bilibeu” – a marcha que percorre todas as aldeias do território Taquaritiua.
Os participantes, com corpos pintados com jenipapo (preto), urucum (vermelho) e carvão (preto), incorporam os “filhos de Bilibeu” e saem em busca de caças como galinhas, patos e porcos, que serão oferecidos à entidade. Os caçadores procuram comida e bebida para o santo.
As aves caçadas são lançadas ao alto, dando início a um ritual de “presa e morte”, com os “cachorros” disputando-as e estraçalhando-as. O vencedor corre com a cabeça da ave em sua boca. Garrafas de cachaça ou conhaque são enterradas para serem encontradas, e refrigerantes são oferecidos às crianças, consideradas os “cachorrinhos” de Bilibeu.
O significado por trás do ritual
Segundo a lenda, Bilibeu se alimenta através de seus “cães”, nutridos pelas oferendas dos moradores. Na corrida, considerada o ponto alto do ritual, os presentes ao santo são jogados ao ar ou enterrados para que os cachorros os encontrem com suas patas.
Durante todo o ritual, os indígenas dão voltas, jogam água em si mesmos, se atiram ao chão, rolam na lama, emitem grunhidos e latidos. É uma forma de preservar uma identidade silenciada por décadas, reencontrando suas raízes através da pintura corporal, dos gritos e da energia da festa.
Para as crianças Akroá-Gamella, a corrida dos cachorros de Bilibeu também representa um importante rito de passagem.
A data do ritual foi remarcada para 30 de abril em 2017, em memória do Massacre dos Akroá-Gamella, o pior ataque sofrido pelo povo, quando pistoleiros, grileiros e fazendeiros da região de Viana atacaram violentamente a comunidade, deixando mais de vinte feridos.
Após a corrida, há cantos e orações ao som dos maracás em homenagem a Bilibeu e João Piraí. À noite, a sentinela na casa de reza simboliza o adoecimento, a morte e a ressurreição de Bilibeu. O ritual se encerra com a derrubada do mastro.











