18 de outubro de 2024

Resistência dos puyanawa resgata cultura e ajuda a proteger Amazônia

Indígenas do oeste do Acre reforçam vínculos após décadas de opressão

Habitantes antigos da região do Vale do Juruá, oeste do Acre, os indígenas da etnia Puyanawa se empenham em consolidar o resgate de sua cultura ancestral. Essa identidade foi seriamente afetada com as atividades extrativas no ciclo da borracha no último século. Em julho, a comunidade de Mâncio Lima, 700 km de Rio Branco, abriu as portas para 70 influenciadores digitais. A ação, organizada pelo projeto Creators Academy, teve o objetivo de dar visibilidade à causa indígena e ao estilo de vida associado à preservação ambiental.

A história dos Puyanawa é marcada por expropriação de terras, separações familiares e mortes. Muitos indígenas foram forçados a trabalhar nos seringais e proibidos de exercer seus costumes, sob a sombra da cultura branca ocidental.

“Nós fomos um povo detectado aqui em 1905, e em 1910 foi a captura de nossos antepassados. Ficamos escravizados do coronel Mâncio Lima até 1950, quando ele faleceu”, conta o cacique Joel Puyanawa.

Parte central da identidade do povo Puyanawa, o artesanato tem uma variedade de mais de 35 itens de vestuário, adornos e objetos de uso cerimonial. Na foto, Valéria Puyanawa – Edgar Azevedo

Da espoliação à resistência

A colonização liderada pelo coronel Mâncio Lima levou à ocupação do território e à fundação de áreas urbanas. A cruel opressão dos indígenas é lembrada com dor, como expressa Caroline Puyanawa:

“É óbvio que o coronel Mâncio Lima, o mesmo que por sua miserável crueldade quase dizimou meu povo por inteiro, não ia deixar que nosso povo continuasse a perpetuar sua identidade, sua aparência e seu idioma.”

O resgate cultural dos Puyanawa começou mais forte em 2012, marcando também a recuperação da língua e dos costumes ancestrais, que estiveram muito ameaçados.

Artesanato e agricultura

A cultura Puyanawa renasce no artesanato, na tecelagem de tucumã, no uso de jenipapo e bambu. A produção da farinha de mandioca é outra tradição fortalecida, gerando renda e mantendo a comunidade alimentada.

“O artesanato é a identidade de um povo, como sua língua, e tem sido um dos principais aspectos do fortalecimento da cultura puyanawa”, afirma Valéria Puyanawa.

Alimento ancestral dos Puyanawa, a mandioca é transformada em farinha; indígenas escoam produção de 500 toneladas por ano. Foto: Pedro Rafael Vilela/Repórter da Agência Brasil

Potencialidades

Com a visita dos influenciadores, a comunidade Puyanawa vislumbra agora o potencial do turismo de base comunitária. A empreendedora social Kamila Camilo, idealizadora do projeto Creators Academy, vê na comunidade um exemplo de produção harmoniosa com a selva.

A jornalista Nathalia Arcuri, criadora do canal Me Poupe!, também teve uma experiência “transformadora” na visita ao território Puyanawa, fortalecida pelos ensinamentos indígenas.

“É um povo que entende o significado do suficiente, em contraposição ao excesso,” reflete.

O repórter viajou a convite do projeto Creators Academy.