A relação entre o ser humano e a floresta amazônica é complexa e precisa ser equilibrada. Nesse contexto, os mateiros desempenham um papel fundamental: são pessoas que cresceram aprendendo com a natureza e hoje colaboram com a ciência e a preservação ambiental.
Esses profissionais da floresta acumulam um conhecimento geracional valioso. Sabem ler os sinais da mata, identificar espécies, compreender os ciclos naturais e navegar por territórios desconhecidos com uma sabedoria que vem de seus antepassados. São verdadeiros guias, capazes de prever mudanças climáticas, encontrar água e alimentos, e até mesmo produzir medicamentos naturais.
De acordo com o projeto “Mateiros do Brasil”, do Museu da Pessoa, a maioria dos mateiros tem origem em povos originários – indígenas, quilombolas e ribeirinhos – que transmitiram essas habilidades de geração em geração.
Os guias da floresta em diferentes momentos da história
Historicamente, os mateiros eram essenciais nas expedições científicas que exploravam a Amazônia. Como aponta o artigo ‘Luta e labor nas matas do interior: os mateiros na expansão da fronteira colonizadora do Brasil na primeira metade do século XX’, de Sandro Dutra, eles atuavam como guias, coletores de espécimes, auxiliares na localização de recursos naturais e transmissores de conhecimento sobre os ecossistemas locais. Em áreas como a do cultivo de cacau no sul da Bahia, o mateiro também atuava como um tipo de “contratista”, responsável por preparar a terra para o plantio.
Ainda segundo o artigo, os mateiros são agentes históricos importantes na expansão da fronteira agrícola e na exploração dos recursos naturais do Brasil.
O reconhecimento da ciência sobre o saber dos mateiros
Por muito tempo, o conhecimento dos mateiros não foi devidamente valorizado. No entanto, essa realidade vem mudando. Cientistas, pesquisadores e acadêmicos estão reconhecendo a importância do saber tradicional para a ciência.
O projeto “Mateiros do Brasil”, do Museu da Pessoa, registra a participação de mateiros em pesquisas acadêmicas. Um exemplo é Edilson Consuello de Oliveira, do Acre, que colabora com instituições como o The New York Botanical Garden e a Universidade Federal do Acre (UFAC). Ele afirma que seu conhecimento ancestral auxilia os cientistas a identificar novas espécies e a compreender melhor o funcionamento da floresta. “A nossa floresta é uma farmácia completa e uma biblioteca para quem a quer estudar”, disse ele ao Museu da Pessoa.
*Com informações do Museu da Pessoa e do artigo “Luta e labor nas matas do interior: os mateiros na expansão da fronteira colonizadora do Brasil na primeira metade do século XX”, de Sandro Dutra.











