Líderes chineses se reúnem em Pequim para estabelecer as metas e prioridades do país para a próxima década. As decisões tomadas na Plenária do Comitê Central do Partido Comunista Chinês servirão de base para o próximo plano quinquenal (2026-2030), que orientará a segunda maior economia do mundo. Embora o plano completo só seja divulgado no ano que vem, algumas diretrizes devem ser antecipadas nesta quarta-feira (22/10).
Especialistas ressaltam que o modelo chinês, baseado em ciclos de planejamento em vez de eleições, tende a gerar decisões com impacto global. Neil Thomas, pesquisador de política chinesa do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, explica: “Os planos quinquenais definem os objetivos da China, indicam a direção que a liderança pretende seguir e mobilizam os recursos do Estado para alcançar esses objetivos.”
Marcos históricos dos planos quinquenais
A história demonstra que as decisões chinesas frequentemente têm repercussões profundas na economia global. A seguir, destacamos três momentos em que os planos quinquenais remodelaram o cenário econômico:
1981-1984: ‘Reforma e Abertura’
Considerado um ponto de partida para a ascensão econômica da China, o período de ‘Reforma e Abertura’ foi formalizado no plano quinquenal de 1981. A política de Deng Xiaoping, que incluía a criação de zonas econômicas especiais e a atração de investimentos estrangeiros, transformou a vida dos chineses. Um acordo com os Estados Unidos em 1979 também foi crucial. Thomas observa que a China atual superou as expectativas dos anos 1970 em termos de restauração do orgulho nacional e consolidação de seu lugar entre as grandes potências.
O processo também remodelou a economia global, com a transferência de milhões de empregos industriais do Ocidente para a China, fenômeno conhecido como “choque da China”. Esse movimento contribuiu para a ascensão de partidos populistas em algumas regiões e para a adoção de medidas protecionistas, como as tarifas impostas pelo ex-presidente americano Donald Trump.
2011–2015: ‘Indústrias estratégicas emergentes’
Após consolidar sua posição como “fábrica do mundo” com a entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, a China passou a planejar o próximo passo, temendo a “armadilha da renda média”. Para evitar essa situação, o país começou a investir em “indústrias estratégicas emergentes”, como tecnologias verdes, veículos elétricos e painéis solares.
Hoje, a China é líder global em energias renováveis e veículos elétricos, além de controlar grande parte do fornecimento de terras raras, essenciais para a fabricação de chips e o desenvolvimento de inteligência artificial (IA). Essa dependência mundial desses recursos confere à China uma posição de poder.
2021-2025: ‘Desenvolvimento de alta qualidade’
Nos planos quinquenais recentes, a China tem priorizado o “desenvolvimento de alta qualidade”, formalizado por Xi Jinping em 2017. O objetivo é desafiar o domínio tecnológico dos Estados Unidos e colocar a China na vanguarda do setor. Casos de sucesso como TikTok, Huawei e DeepSeek ilustram o avanço chinês.
No entanto, o progresso chinês é visto com desconfiança por países ocidentais, que o consideram uma ameaça à segurança nacional. Restrições a tecnologias chinesas têm gerado disputas diplomáticas.
O conceito de “desenvolvimento de alta qualidade” pode evoluir para “novas forças produtivas de qualidade”, lema introduzido por Xi em 2023, com foco em orgulho nacional e segurança do país. A autossuficiência em setores-chave, especialmente em inovação, deve ser um pilar central do próximo plano quinquenal, buscando evitar a dependência tecnológica e embargos.