Pesquisador de Roraima lança livro que analisa narrativas visuais em imagens raras da Amazônia, após 40 anos de estudos

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Pesquisador de Roraima lança livro que analisa narrativas visuais em imagens raras da Amazônia, após 40 anos de estudos

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Depois de 40 anos dedicados a estudos, o pesquisador da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Maurício Zouein, traz à luz um novo olhar sobre as narrativas visuais em sua obra “A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia 1865-1908”. Indicado ao Prêmio Jabuti 2023, este livro analisa imagens raras da Amazônia e como elas revelam as complexas relações sociais, políticas, econômicas e culturais da época.

Zouein, com o objetivo principal de ilustrar através de documentos a desprezível capacidade humana de desrespeito à vida, lança esta obra provocativa, que conseguiu destaque no eixo de Não-Ficção da premiação literária mais importante do Brasil, o Prêmio Jabuti.

Três indígenas dos povos Macuxi e Wapichana sorriem em fotografia tirada em 1911. Foto: Theodor Koch-Grünberg/Acervo de Maurício Zouein

Na publicação estão presentes registros raros que vão de 1865 a 1908, com fotografias, cartões-postais e álbuns, muitos financiados pelos governadores do Amazonas e Pará da época. Para a obtenção de algumas das imagens mais significativas, Zouein precisou negociar por mais de um ano e meio com a Universidade de Harvard, nos EUA, adquirindo uma licença de pesquisador da Amazônia para acessar o acervo histórico da instituição.

Zouein expressa a importância de apresentar aos leitores da obra a versão mais real possível das imagens, preservando as cores e texturas originais. A obra, lançada pela Editora Telha, apresenta mais de 130 fotografias raras da Amazônia, muitas delas parte do acervo pessoal do autor, que também é um entusiasta colecionador.

Cartão postal enviado em 1904 com fotografia tirada em 1894 mostra três crianças indígenas. Foto: George Huebner/Acervo de Maurício Zouein

A indicação para o Prêmio Jabuti, feita pela Editora Telha, que assumiu todos os custos do processo, foi uma surpresa para o professor. O livro também foi reconhecido pela editora Globo, gerando uma matéria de mais de dez páginas na revista científica Galileu. Hoje, segundo a Editora Telha, já são cerca de 1500 exemplares vendidos em todo o mundo.

O trabalho é fruto da tese de doutorado de Zouein, aprovada com distinção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e que depois foi publicada com o selo da UFRR, em um ato de gratidão do autor à instituição.

Professor Maurício Zouein. Foto: Arquivo pessoal

Zouein conta que a obra é uma reflexão sobre como as pessoas da Amazônia foram retratadas por fotógrafos europeus no final do século XIX e início do século XX. O professor destaca que a obra ajuda a pensar em como o processo de opressão cultural ainda acontece e se repete ao longo dos anos.

Zouein atribui a indicação do livro ao Prêmio Jabuti a três fatores: a metodologia da pesquisa, o resultado que chamou a atenção por abordar questões sociais discutidas atualmente, e o foco na Amazônia, o que ele considera uma marca da região Norte.

O autor Maurício Zouein, ao lado de sua esposa Karen, e do filho, Arthur Zouein. Foto: Arquivo Pessoal