O ofício das tacacazeiras da Região Norte foi oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 25 de novembro. A decisão, tomada durante a 111ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, destaca a importância das mulheres amazônicas na preservação de saberes ancestrais ligados à culinária regional.
O reconhecimento foi registrado no Livro dos Saberes, uma iniciativa do Iphan para valorizar práticas culturais transmitidas de geração em geração. O presidente do Iphan, Leandro Grass, enfatizou que a decisão é um reconhecimento dos saberes e tradições da região Norte, ressaltando a importância de valorizar a identidade amazônica como parte fundamental da cultura brasileira.
O tacacá, prato emblemático da Amazônia, é feito com tucupi e goma, derivados da mandioca, camarão seco, jambu e temperos variados. No entanto, o reconhecimento vai além da receita em si. De acordo com o parecer técnico do Iphan, o ofício de tacacazeira engloba um conjunto de práticas que incluem a agricultura, técnicas culinárias, formas de comercialização e laços sociais.
O ofício surgiu como uma alternativa de renda para muitas mulheres que enfrentavam dificuldades no mercado de trabalho formal. A venda de tacacá se tornou uma estratégia de sobrevivência e sustento familiar. Maria de Nazaré, uma tacacazeira de 71 anos que atua em Manaus, é um exemplo disso: “Meus filhos estão fazendo faculdade aqui, tenho um filho cirurgião, tenho neto advogado. Tudo se criou aqui, vendendo tacacá”, conta orgulhosamente.
Presente em todas as sete capitais da Região Norte, o ofício de tacacazeira apresenta características únicas em cada localidade. Em Belém, registros históricos atestam a presença das tacacazeiras desde o final do século XIX, enquanto em Palmas, a prática é mais recente, associada à migração de pessoas do Pará e do Maranhão.
Os pontos de venda são diversos: bancas, barracas, quiosques, carrinhos, mercados e até restaurantes especializados. Esses locais são importantes pontos de encontro e fortalecimento da identidade amazônica.
O processo de reconhecimento começou em 2010, com uma solicitação do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP). Em 2024, a pesquisa, realizada em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), ouviu mais de 100 tacacazeiras em sete estados da região: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A maioria das tacacazeiras são mulheres de meia-idade ou mais, que aprenderam o ofício com suas familiares e o transmitem para as novas gerações. Com o reconhecimento do Iphan, será elaborado um Plano de Salvaguarda com foco em gestão, acesso a matérias-primas, melhoria das condições de comercialização, divulgação cultural e garantia do direito à cidade, buscando melhores condições de infraestrutura para as tacacazeiras.
“Criei meus filhos com o tacacá, sou feliz pela minha profissão. Obrigado ao Iphan por toda essa estrutura”, declarou Irene Morais, uma tacacazeira de Roraima.











