O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) abriu ao público, neste domingo (9/11), um mural vibrante criado pelo Movimento dos Artistas Huni Kuin (Mahku). A obra, com 58,9 metros quadrados, apresenta dois mitos centrais do povo indígena: Kapewë Pukeni (do jacaré-ponte) e Yune Inu, Yube Shanu (do surgimento da Ayahuasca).
O mural é um convite para conhecer a visão de mundo do povo Huni Kuin, do Acre, e representa um importante elo entre cultura, arte, ciência e meio ambiente. A pintura ficará exposta permanentemente no Centro de Exposições Eduardo Galvão, dentro do Parque Zoobotânico do MPEG, em Belém.
A chegada do mural ao museu faz parte da programação cultural do Goeldi para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá na capital paraense a partir da próxima segunda-feira (10/11). A obra simboliza a presença e o conhecimento dos povos indígenas nas discussões globais sobre o clima.
O MPEG, desde sua fundação em 1866, sempre buscou o diálogo intercultural, a pesquisa colaborativa com comunidades indígenas e a proteção da Amazônia, integrando saberes científicos e tradicionais. A iniciativa foi articulada pela galeria Carmo Johnson Projects, com patrocínio da Bloomberg Philanthropies e apoio do Instituto Peabiru.
Presente dos artistas
Os seis artistas do Mahku pintaram os painéis em outubro e foram recebidos pelo diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, que agradeceu o presente em nome da instituição. O diretor destacou que, às vésperas da COP30, o museu reafirma seu compromisso com os povos originários.
“Os Huni Kuin fizeram uma arte maravilhosa aqui, que mostra a relação mística com a natureza. Nossa instituição, declarada de forma simbólica como ‘território indígena’, tem buscado uma comunicação que reúne ciência, cultura e arte”, afirmou Gabas Júnior.
Ibã Huni Kuin, fundador do coletivo e professor, pesquisador e artista, explicou que a ideia de pintar os mitos surgiu da necessidade de preservar a cultura Huni Kuin, que é transmitida oralmente. Ele percebeu que a língua e os cantos ancestrais estavam se perdendo entre os jovens.
“Os nossos conhecimentos são da memória, não tem escritos. Eu já vinha acompanhando as histórias do meu pai, por meio da música e comecei a gravar (os cantos do) meu pai”, disse Ibã. As gravações se transformaram em um livro escrito em três idiomas, mas, segundo ele, a tradução não conseguia capturar a essência dos cantos Huni Kuin. Daí surgiu a ideia de pintar e ensinar os jovens a retratar essas músicas, o que deu origem ao Mahku, fundado em 2012.
Os mitos retratados
O mural apresenta o mito do jacaré-ponte (Kapewë Pukeni), que narra a jornada do povo Huni Kuin em busca de um novo lar, e o mito do surgimento da ayahuasca (Yube Inu, Yube Shanu), que representa a cura e a transformação. Os artistas utilizaram cores vibrantes e grafismos tradicionais kenê para traduzir os cantos e visões do nixi pae (ayahuasca).
O Mahku é formado por Ibã Huni Kuin, Cleiber Bane, Cleudon Sales Txana Tuin, Acelino Sales, Yaka Huni Kuin e Kásia Mytara, artistas que buscam preservar e difundir a cultura Huni Kuin através da arte.











