As mudanças climáticas deixaram de ser uma preocupação distante para se tornarem uma realidade para muitos moradores da Amazônia Legal. Uma pesquisa recente, realizada pela Umane e pela Vital Strategies com apoio do Instituto Devive, revela que cerca de um terço da população da região (32%) já sente os efeitos diretamente.
Entre os povos e comunidades tradicionais – como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas – esse número sobe para 42,2%, mostrando a maior vulnerabilidade desses grupos.
O estudo ‘Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal’ é o primeiro a coletar informações de moradores dos nove estados que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), incluindo aqueles que historicamente têm menos visibilidade em pesquisas.
A pesquisa ouviu 4.037 pessoas entre maio e julho de 2024 e constatou que a maioria dos entrevistados (88,4%) acredita que as mudanças climáticas estão acontecendo no Brasil e no mundo, e 90,6% concordam que o aquecimento global é uma realidade. Essa percepção está ligada à experiência diária com eventos climáticos extremos que impactam a vida das pessoas e a natureza da Amazônia.
Impactos no dia a dia
Os resultados da pesquisa mostram que a maioria dos moradores (83,4%) percebeu aumento na conta de luz, 82,4% sentiu as temperaturas mais altas e 75% notou piora na qualidade do ar. Além disso, 74,4% mencionaram a ocorrência de desastres como queimadas e secas prolongadas, e 73% relataram aumento nos preços dos alimentos.
“Enfrentar a crise climática na Amazônia é mais do que uma questão ambiental – é uma questão de saúde pública e de combate às desigualdades. Com a aproximação da COP30, este estudo traz dados importantes para informar políticas públicas que protejam a região e sua população, com foco na redução das desigualdades”, explica Thais Junqueira, superintendente da Umane.
As comunidades tradicionais são ainda mais afetadas: 24,1% relataram piora na qualidade da água e 21,4% citaram problemas na produção de alimentos, números maiores do que na população em geral. “Esses grupos são mais vulneráveis porque vivem em áreas de risco climático e dependem dos recursos naturais para sobreviver”, explica Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora-adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies.
A pesquisa também mostra que 53,3% dos entrevistados estão reduzindo ações que consideram prejudiciais ao clima, e 38,4% se sentem culpados por desperdiçar energia. A separação do lixo é mais comum entre as comunidades tradicionais (70,1%) do que entre os demais (59,2%).
Para a Vital Strategies, os resultados reforçam que a crise climática é também uma questão de saúde pública. “Um terço dos moradores da Amazônia Legal já sofreu impactos diretos do clima, e a maioria depende exclusivamente do SUS. É urgente integrar políticas de saúde e clima para proteger os grupos mais vulneráveis”, conclui Pedro de Paula, diretor-executivo da organização no Brasil.











