Para um inventário, a jornalista e produtora cultural Luciana Medeiros, pesquisou, documentou e organizou as obras do músico, falecido em 2018.
O paraense Joaquim de Lima Vieira é conhecido como Mestre Vieira e reconhecido como criador da guitarrada. E para eternizar a obra do artista autodidata, ela foi catalogada no ‘Inventário Mestre Vieira’. O projeto foi lançado este mês e apresenta um songbook bilíngue (em português e inglês) com partituras de 30 músicas compostas pelo paraense.
O inventário foi realizado pela jornalista e produtora cultural Luciana Medeiros, que pesquisou, documentou e organizou as obras do músico, falecido em 2018. A discografia completa e textos sobre a trajetória do músico também fazem parte do inventário, concretizado com patrocínio do Rumos Itaú Cultural.
Os textos do projeto também são assinados pelo historiador e professor em Barcarena, Luiz Antônio Valente Guimarães; e pelo músico e pesquisador André Pereira Sousa. André realizou a transcrição das partituras a partir das músicas gravadas pelo Mestre Vieira. O projeto possui inclusive um QR Code direcionado para o site ‘Mestre Vieira‘.
Biografia
No site é possível conferir toda a biografia do Mestre Vieira e suas produções em uma discografia completa. Confira a história do Mestre Vieira:
“Joaquim de Lima Vieira nasceu em 29 de outubro de 1934, filho do português Zacarias Pinto Vieira e da paraense Sophia Rosa de Lima Vieira, que já tinham outros seis filhos. Em Barcarena, no Pará, à beira do igarapé Tapuá, a casa era grande, assim como o terreno utilizado para a agricultura. O caçula da família cresceu entre irmãos e irmãs, correndo pelo quintal, jogando futebol, até com limões. O pequeno Joaquim também costumava acompanhar os irmãos mais velhos tocando em rodas de samba, com os primos.
Assim, ele prendeu a tocar banjo, aos cinco anos, e aos 14 já era muito bom no bandolim, ganhando um concurso de Melhor Solista do Pará, na Rádio Clube, em Belém. Depois, Vieira também se dedicou ao violão, formando seu primeiro conjunto regional, nos anos 1960. Em meados daquela década, ele foi ao cinema e viu na tela um instrumento que conhecia apenas pelo nome de ‘pau elétrico’. Foi paixão arrebatadora, à primeira vista, no escurinho do cinema. Tinha que dar certo.
Vieira gravou o primeiro LP “Lambadas das Quebradas”, em 1978, e o último, “40 Graus”, em 1991. Ao todo foram 13 LPs gravados com Vieira e Seu Conjunto. Os discos fizeram grande sucesso, levando o grupo a tocar nas rádios e a realizar duas turnês pelo Ceará.
Na década de 1990, porém, o músico sai da cena midiática da música brasileira, mas segue se apresentando nos arredores de Barcarena, e chega a gravar dois CDs, em 1998 e 2002, mas ainda sem emplacar sucessos nas rádios.
Nos anos 2000, vem a virada e Vieira reaparece na cena musical com Os Mestres da Guitarrada, projeto fruto da pesquisa do músico, pesquisador e produtor musical Pio Lobato, e se reposiciona na história como o criador da Guitarrada, gênero musical precursor da Lambada. Daí em diante, o músico vive nova fase em sua trajetória. Em 2008, grava o CD Guitarrada Magnética retomando a carreira solo.
Em 2012, realiza shows com o antigo grupo, no projeto Mestre Vieira e Os Dinâmicos, grava o DVD 50 Anos de Guitarrada, ao vivo, no Theatro da Paz e em 2015, lança o último CD Guitarreiro do Mundo, e se torna tema da série de animação “Os Dinâmicos”, inspirada em algumas de suas lambadas, projetos realizados em parceria com a jornalista e produtora cultural Luciana Medeiros.
Embora tenha vivido o sucesso como artista, Mestre Vieira sempre viveu de forma simples. Era um homem de hábitos comuns e mesmo no auge de sua fama, mantinha uma rotina semelhante a dos demais moradores do município em que ele vivia. Sentado na varanda de sua residência, na Travessa Santo Antônio, ficava ali, a dedilhar as cordas de sua guitarra ou circulando pela cidade em sua bicicleta, visitando o mercado ou parando aqui e ali para uma conversa com os amigos. No palco, gostava de vestir camisas vistosas, combinando-as com a calça branca ou preta.
Em 2017, enfrentado há mais de um ano um câncer de próstata, ele se despediu de seu público, no palco. Em setembro daquele ano, ainda se apresentou no Festival do Abacaxi, e em outubro fez apresentações no Rio de Janeiro e em Belém. O último show, realizado em Barcarena para comemorar seu aniversário de 83 anos, emocionou toda a cidade. Em 02 de fevereiro de 2018, a “milagrosa”, sua guitarra, cala-se para sempre, mas seu legado sobrevive e agora ganha pesquisa, difusão e salvaguarda, por meio do Inventário Mestre Vieira”.
Fonte: Portal Amazônia