Os mercados financeiros da Argentina apresentaram forte recuperação nesta segunda-feira (22) após declarações do governo dos Estados Unidos indicando a disposição de oferecer apoio econômico ao país. Ações negociadas nos EUA subiram mais de 10%, títulos internacionais em dólar ganharam mais de seis centavos e o peso argentino se valorizou frente ao dólar.
Apoio dos EUA: quais as opções?
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que diversas ferramentas estão sendo consideradas para auxiliar a Argentina, incluindo linhas de swap, compras diretas de moeda estrangeira e aquisição de dívida pública em dólares. Bessent destacou a importância da Argentina como um “aliado sistêmico importante dos EUA na América Latina”. Além disso, foi anunciado que os presidentes Javier Milei (Argentina) e Donald Trump (EUA) têm uma reunião agendada para terça-feira.
Em um movimento adicional, o governo argentino suspendeu temporariamente os impostos de exportação sobre grãos até o final de outubro, período que inclui as eleições de meio de mandato, marcadas para o dia 26. A medida visa estimular o setor agrícola e fortalecer a economia local.
Contexto de instabilidade
As últimas semanas foram marcadas por turbulências nos mercados argentinos. Os títulos internacionais registraram um recuo de mais de 20% no ano, e o peso chegou ao limite inferior da banda cambial estabelecida pelas autoridades. A situação foi agravada por denúncias de corrupção envolvendo aliados do presidente Javier Milei e uma derrota inesperada em uma eleição local na província de Buenos Aires, gerando dúvidas sobre a capacidade do governo de implementar suas políticas econômicas.
“Os ativos da Argentina estavam precisando desesperadamente de um catalisador, e acabaram de recebê-lo”, analisou Alejo Czerwonko, CIO para mercados emergentes nas Américas do UBS. “A intervenção de Bessent tem um peso significativo nesse cenário frágil, oferecendo ao governo Milei uma janela crítica para se reorientar antes das eleições de outubro.”
Valorização dos ativos e perspectivas futuras
Um índice de ações argentinas negociadas nos EUA avançou quase 12%, enquanto o título 2046 subiu 6,7 centavos, atingindo 53,85 centavos de dólar, segundo dados da MarketAxess. O peso argentino se valorizou 2%, sendo cotado a 1.446 por dólar, após o Banco Central da Argentina utilizar mais de US$ 1 bilhão em reservas na semana passada para sustentar a moeda.
Apesar da recuperação dos eurobônus, os rendimentos permanecem elevados, variando entre 16% e 26% para todos os vencimentos. Investidores permanecem cautelosos e atentos à disposição de Milei em ajustar suas políticas, tanto no âmbito doméstico quanto no mercado internacional.
Kathryn Exum, codiretora de pesquisa soberana da Gramercy Funds Management, ressaltou que um apoio financeiro dos EUA, combinado com as medidas fiscais de exportação anunciadas, poderia ajudar Milei a gerenciar a atual estrutura cambial até o dia 26, reduzindo o ritmo de consumo das reservas internacionais, que atualmente estão em níveis insustentáveis. “A capacidade do governo de ajustar rapidamente a política após a votação de outubro determinará a trajetória dos preços dos títulos e a necessidade de um exercício de gerenciamento de passivos ou acesso ao mercado em 2026”, concluiu Exum.
