O Marabaixo, uma das principais manifestações culturais do Amapá, acaba de ganhar um Plano de Salvaguarda, divulgado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O documento detalha ações para garantir a preservação e a continuidade dessa rica tradição.
O plano, fundamental para a gestão de bens culturais imateriais, foi elaborado com a liderança do Comitê Gestor da Salvaguarda do Marabaixo (CGMAP). O comitê é formado por representantes das comunidades, barracões, grupos e associações que mantêm viva essa tradição no estado.
O objetivo principal é organizar e priorizar ações de salvaguarda, considerando a realidade das comunidades detentoras do Marabaixo. As medidas buscam a sustentabilidade cultural, criando condições sociais, econômicas, políticas e ambientais adequadas para que a manifestação possa continuar a existir e ser praticada. O plano também prevê ações preventivas e corretivas para enfrentar possíveis ameaças à cultura.
Além de sua importância para o povo que detém essa tradição, o Plano de Salvaguarda do Marabaixo ressalta a necessidade de proteção contra a discriminação e o preconceito, muitas vezes direcionados às manifestações de matriz africana.
“O documento é resultado de um trabalho conjunto entre Iphan, detentores e sociedade civil. Mais do que um instrumento técnico, representa o reconhecimento do Marabaixo como expressão viva da fé, da resistência e da ancestralidade afro-amapaense. A participação das comunidades é fundamental para que o som dos tambores continue ecoando nas gerações futuras, mantendo viva a identidade do povo amapaense”, afirmou Michel Flores, superintendente do Iphan no Amapá.
O que é o Marabaixo?
Reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan em 2018, o Marabaixo é uma celebração de origem afrodescendente que homenageia o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade. A tradição combina ritos religiosos e festivos, com um ciclo que começa na Páscoa e termina no Domingo do Senhor.
Durante as festividades, elementos africanos – como o corte do mastro, a quebra da murta e as danças – se misturam a rituais católicos, como missas, novenas e procissões. As músicas, chamadas “ladrões”, são cantadas ao som das caixas de marabaixo, grandes tambores tocados com baquetas, enquanto os participantes dançam em círculo, arrastando os pés no sentido anti-horário. A tradição é frequentemente acompanhada pelo consumo da gengibirra, bebida típica do Amapá.
As roupas também carregam significados importantes: as mulheres usam saias floridas, anáguas, colares e flores nos cabelos, remetendo às vestimentas das escravizadas no passado; os homens vestem roupas brancas e coloridas. O Marabaixo é especialmente forte nos bairros do Laguinho e Santa Rita, em Macapá, e em comunidades tradicionais como Mazagão Velho, Campina Grande, Curiaú, Lagoa dos Índios e Maruanum.











