Um projeto de mapeamento iniciado em Manaus busca valorizar a atuação de terreiros de Candomblé, Umbanda e templos de religiões de matriz africana na cidade. A iniciativa, chamada Cartografia da Resistência e do Cuidado, é uma parceria entre o Atlas ODS Amazônia, a Universidade Federal do Amazonas, o Instituto Acariquara e o Instituto Ganga Zumba.
O estudo visa criar uma plataforma digital interativa, alimentada pelas próprias comunidades, com informações sobre a localização dos terreiros, suas práticas culturais, o impacto social que geram e as estratégias que utilizam para cuidar do meio ambiente e de seus membros. O objetivo é gerar dados que possam embasar políticas públicas e fortalecer essas instituições.
“Estamos falando de territórios que cuidam, alimentam, acolhem e preservam saberes ancestrais em meio à cidade”, explica Dr. Danilo Egle, coordenador técnico do Atlas ODS Amazônia. A iniciativa se alinha ao recém-criado Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 18 (ODS 18), que visa proteger os povos e comunidades tradicionais, reconhecendo o papel dos terreiros como agentes de cuidado, cultura e justiça ambiental.
O projeto não se limita à coleta de dados. Oficinas, rodas de conversa e escutas comunitárias estão sendo realizadas para garantir que as lideranças religiosas e os moradores das áreas mapeadas conduzam suas próprias narrativas e definam como seus territórios e modos de vida serão representados.
“Esse projeto nasce do nosso próprio chão, da nossa necessidade de existir com dignidade e sermos reconhecidos como guardiões de saberes, memórias e cuidados. Ao mapear esses territórios, estamos dizendo em alto e bom som que nossa presença importa”, afirma Donté Luiz de Badé, sacerdote do culto tradicional de Ifá e membro do Instituto Ganga Zumba.
Um exemplo inspirador para o projeto é o evento Balaio da Oxum, que em 2025 completará 10 anos. O Balaio surgiu como um espaço de resistência e fé, reunindo povos de terreiro, comunidades tradicionais e movimentos sociais em torno da arte, espiritualidade e defesa ambiental. A sacerdotisa Agonjaí Nochê Flor de Navê, do Templo de Tambores de Mina Jejê-Nagô Xwê Ná Sin Fifá, ressalta a importância de respeitar a visão ancestral presente em cada ação do evento.
A iniciativa busca fortalecer a conexão entre fé, memória e pertencimento, reconhecendo os terreiros como espaços de cuidado ambiental e cultural essenciais para a construção de cidades mais justas e sustentáveis. A expectativa é que a plataforma e os relatórios gerados pelo estudo contribuam para o surgimento de políticas públicas que garantam segurança territorial, sustentabilidade e visibilidade para essas comunidades.












