Em comemoração aos 356 anos de Manaus, o escritor Milton Hatoum, recém-empossado na Academia Brasileira de Letras (ABL), compartilha suas memórias e reflexões sobre a capital amazonense. Com uma população estimada em 2.303.722 pessoas (IBGE), Manaus é palco e inspiração para grande parte de sua obra.
Hatoum, que divide sua vida entre São Paulo e o Amazonas, destaca a importância de Manaus em sua trajetória pessoal e profissional. Autor de oito livros, quatro deles ambientados na cidade, ele observa as transformações da capital e expressa saudade da Manaus de sua infância.
“Faz uns 25, 26 anos que me mudei”, conta o escritor, que deixou Manaus para concluir o doutorado na USP. Apesar da distância, o laço com a cidade natal permanece forte, impulsionado pela família e pelas memórias afetivas. “Eu tenho minha irmã, tia, primos, tenho minha família, da qual uma parte mora em Manaus. Aliás, toda minha família amazônica mora em Manaus. E eu, enfim, já não tenho muitos amigos (daí), mas tem os espaços da minha infância, tem o rio Negro, que foi um dos grandes acontecimentos da minha vida. Ainda é. Então eu sinto muita saudade de tudo isso.”
O escritor lamenta as mudanças que a cidade sofreu ao longo dos anos, especialmente o crescimento desordenado a partir da década de 1970. “Manaus nos anos 1960 era uma cidade relativamente pequena e calma, que tinha uma relação muito harmônica com a natureza. Depois, a cidade cresceu de uma forma desordenada, caótica. Não houve planejamento para esse crescimento brusco ou abrupto.”
Hatoum aponta a falta de planejamento urbano, a escassez de áreas verdes, a ausência de calçadas e os problemas de saneamento básico como alguns dos principais desafios enfrentados pela cidade. “É uma cidade complicada do ponto de vista da mobilidade urbana. É uma cidade que não é arborizada, o que é, vamos dizer, um contrassenso. Uma cidade de clima quente e úmido não ser arborizada?”
Apesar das críticas, o escritor se mostra esperançoso em relação ao futuro de Manaus. “Acho que é preciso formar uma equipe inteligente, que tenha amor pela cidade e pense no planejamento urbano, em estratégias urbanas e arquitetônicas, que humanizem a cidade.”
Em sua mensagem para o aniversário de Manaus, Milton Hatoum reafirma seu amor pela cidade e sua importância em sua obra. “Eu escrevi quatro romances ambientados em Manaus e alguns contos. Porque todo escritor e toda escritora, de algum modo, escrevem sobre a sua infância e a sua juventude. E a memória desempenha um papel fundamental nisso. Mesmo ausente de Manaus, estou sempre voltando à cidade onde nasci.”











