O primeiro caso de leishmaniose visceral canina foi confirmado em Porto Velho. Entenda os sintomas, tratamento e como prevenir essa doença.
Setembro marcou um alerta para os tutores de cães em Porto Velho com a confirmação do primeiro caso de leishmaniose visceral canina na cidade. A doença, transmitida por um mosquito e que também pode afetar humanos, é grave e pode levar à morte se não for tratada.
Para esclarecer as principais dúvidas, conversamos com o médico veterinário Cristian José e com Gabriel Eduardo, pesquisador da Fiocruz. Eles explicam como a doença age, os sinais de alerta e as formas de prevenção.
O que é a leishmaniose visceral canina?
A leishmaniose visceral é uma doença infecciosa causada por um protozoário do gênero Leishmania. A transmissão ocorre pela picada de um pequeno inseto conhecido popularmente como mosquito palha (flebotomíneo).
O mosquito transmissor e o contágio
O ciclo de transmissão começa quando o mosquito palha pica um animal infectado e, posteriormente, pica um cão saudável, transmitindo o parasita. A doença não é contagiosa pelo contato direto entre cães ou de cães para humanos. O vetor, o mosquito, é o único responsável pela disseminação.
Após o contágio, os sintomas podem demorar a aparecer, com um período médio de incubação de três a sete meses. No entanto, há casos em que os sinais surgem em apenas dois meses ou até mais de um ano depois da infecção.
“Essa variação depende de fatores como a resposta imune individual do cão”, explica o veterinário Cristian José. Segundo ele, a genética, o estado nutricional e a quantidade de parasitas inoculada na picada também influenciam o desenvolvimento da doença.
Quais são os principais sintomas?
Um dos grandes desafios da leishmaniose é que ela pode ser silenciosa. Em áreas de alto risco, estima-se que cerca de 50% dos cães infectados não apresentam sintomas visíveis. Quando se manifestam, os sinais podem variar, mas os mais comuns são:
- Perda de peso progressiva, mesmo que o apetite se mantenha normal.
- Apatia, cansaço e febre intermitente.
- Crescimento exagerado das unhas.
- Queda de pelos, principalmente ao redor dos olhos e nas orelhas.
- Feridas na pele que demoram a cicatrizar.
- Aumento do baço e do fígado.
- Caroços pelo corpo, que são linfonodos inchados.
- Problemas oculares, como conjuntivite e olho seco.
- Em fases avançadas, a doença pode levar à insuficiência renal crônica.
Ao notar qualquer um desses sintomas, o tutor deve procurar um médico veterinário imediatamente.
Como é feito o diagnóstico e o tratamento?
O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento e para controlar a disseminação da doença.
Diagnóstico
A confirmação da leishmaniose canina é feita por meio de exames laboratoriais. Os métodos mais comuns incluem o exame parasitológico direto, testes sorológicos que detectam anticorpos, e testes moleculares (PCR). Para aumentar a precisão, os especialistas recomendam a combinação de mais de um tipo de exame.
Em Rondônia, após a suspeita clínica, uma amostra de sangue do animal é coletada. De acordo com o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-RO), a logística para envio das amostras para laboratórios fora do estado pode atrasar o resultado. No entanto, casos suspeitos podem contar com o apoio do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) e da Fiocruz Rondônia para agilizar a confirmação.
Tratamento
Por muito tempo, a eutanásia era a única recomendação para cães diagnosticados com leishmaniose. Felizmente, hoje o cenário é outro. Existe um tratamento à base de miltefosina, um medicamento registrado pelo Ministério da Agricultura que melhora a qualidade de vida do animal e reduz os sintomas.
No entanto, é crucial entender que o tratamento não elimina completamente o parasita. “O medicamento melhora a qualidade de vida e reduz os sinais clínicos, mas não elimina o parasita, que permanece no organismo em estado latente”, alerta Cristian. Por isso, mesmo em tratamento, o cão deve continuar usando métodos de prevenção para não transmitir a doença.
O uso de medicamentos humanos é proibido e perigoso para os animais. Todo o tratamento deve ser prescrito e acompanhado por um médico veterinário.
Prevenção: a melhor estratégia
Como o tratamento não cura a infecção, a prevenção é a arma mais eficaz contra a leishmaniose visceral canina.
Cuidados com o cão
A principal medida preventiva é proteger o animal contra a picada do mosquito palha. Coleiras repelentes impregnadas com deltametrina são altamente recomendadas e indispensáveis, mesmo para cães em tratamento. Vacinas também estão disponíveis e podem ser uma camada extra de proteção.
Responsabilidade do tutor e do poder público
Os tutores têm um papel fundamental ao manter seus quintais limpos, livres de matéria orgânica em decomposição, como folhas e frutos, pois esses locais servem de criadouro para o mosquito.
Além disso, o poder público tem a responsabilidade de realizar a vigilância epidemiológica, oferecer diagnóstico acessível e promover campanhas de conscientização. Essa abordagem integrada, conhecida como “Uma Só Saúde”, une governo, profissionais de saúde e tutores para combater a doença de forma coordenada.
A situação em Porto Velho
Após a confirmação do primeiro caso, a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) realizou um inquérito canino em um raio de 500 metros do local. Cerca de 80 amostras de sangue foram coletadas, e todas deram negativo. Armadilhas também foram instaladas para monitorar a presença do mosquito palha na região.
A Divisão de Controle de Zoonoses e Animais Domésticos e Sinantrópicos (DCZADS) orienta a população a ficar atenta aos sintomas. Caso seu cão apresente sinais suspeitos, procure um veterinário. Suspeitas da doença também podem ser comunicadas pelo telefone (69) 98473-6712.