Desde que saiu da falência em 2013, a Kodak tem como missão se reerguer e recuperar sua posição no mercado de fotografia. À frente da empresa desde 2019, James Continenza, de 63 anos, tem a responsabilidade de conduzir essa transformação.
Continenza, de origem ítalo-americana, filho de uma costureira e de um zelador, destaca-se por sua proximidade com os funcionários. Segundo o jornal britânico Financial Times, ele costuma visitar as fábricas da Eastman Kodak, que empregam cerca de 4 mil pessoas, buscando manter contato direto com a classe trabalhadora.
Trajetória e especialização
O executivo construiu sua carreira especializando-se em “turnaround”, o processo de reerguer empresas em dificuldades. Passou por empresas de telecomunicações como AT&T e Lucent antes de ingressar no conselho de administração da Kodak, em 2013, a convite dos credores. Em 2019, assumiu a presidência executiva do conselho e, em 2020, o cargo de CEO.
Ao assumir a liderança, Continenza identificou a burocracia excessiva como um dos principais obstáculos. “Levava dias para marcar uma reunião com meus diretores e semanas para que cada divisão apresentasse informações básicas”, relatou ao Financial Times. Para reverter esse cenário, ele simplificou processos, centralizou decisões e reduziu a hierarquia, focando cada área em suas competências essenciais.
Lições do passado e desafios atuais
Uma visita ao Museu George Eastman, em Rochester, Nova York, onde está localizada a sede da Kodak, marcou a gestão de Continenza. Ao ver câmeras inovadoras que nunca tiveram sucesso comercial, ele refletiu sobre a importância de investir nos funcionários e acionistas. “Gastamos milhões nesses projetos e tivemos pouco retorno. Eu preferia ter investido esse dinheiro nos funcionários e acionistas”, afirmou.
A Kodak, fundada em 1879, dominou o mercado de filmes e câmeras durante o século XX, mas perdeu espaço com o advento da fotografia digital, tecnologia que ironicamente foi inventada dentro da própria empresa em 1975. A demora em apostar nesse novo modelo de negócio levou a companhia à falência em 2012, com dívidas de cerca de US$ 6,75 bilhões (R$ 36 bilhões).
Desde 2020, a Kodak diversificou suas atividades, produzindo insumos farmacêuticos, filmes para cinema, produtos químicos industriais e licenciando sua marca. Apesar da reestruturação, a empresa ainda enfrenta desafios financeiros, como a incapacidade de quitar US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) em débitos, o que gera dúvidas sobre sua capacidade de manter as operações no longo prazo. No segundo trimestre deste ano, a Kodak registrou prejuízo de US$ 26 milhões e queda de 1% na receita.
Para contornar a situação, a Kodak encerrou seu antigo plano de previdência privada e criou um novo modelo para os funcionários atuais, utilizando parte dos recursos liberados para pagar dívidas. Continenza espera concluir esse processo até o ano que vem e afirma ter alternativas de financiamento caso necessário. Ele prevê que a estratégia de recuperação será totalmente executada em cerca de dois anos.
Atualmente, a empresa concentra seus investimentos em impressão comercial, materiais e produtos químicos avançados, e farmacêutica. Além disso, mantém a produção de filmes analógicos, que voltaram a ser procurados, e continua licenciando a marca Kodak. Continenza afirma que 90% da reestruturação já foi concluída e que, ao final do processo, pretende deixar a liderança da empresa para que outra pessoa conduza a Kodak para o futuro.










