Arte Santeira em Madeira e Igreja de Nossa Senhora de Lourdes são Patrimônio Cultural do Brasil
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) anunciou nesta segunda-feira (11) o reconhecimento da Arte Santeira em Madeira do Piauí e da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, em Teresina (PI), como Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão foi tomada durante a 106ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que ocorreu na capital piauiense.
Com o reconhecimento, a Arte Santeira foi registrada no Livro das Formas de Expressão, enquanto a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes foi inscrita em três livros: Tombo das Belas Artes, Histórico e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Este é o primeiro registro simultâneo de um bem imaterial e de uma edificação histórica pelo Iphan, celebrando a importância cultural do estado.
A importância da Arte Santeira em Madeira
A Arte Santeira em Madeira do Piauí é uma expressão artística que utiliza a madeira para esculpir peças como oratórios, painéis e esculturas tridimensionais. Suas representações trazem referências religiosas e locais, exibindo aspectos da natureza e da vida cotidiana da região.
O pedido de reconhecimento dessa arte foi iniciado em 2008 pelo Mestre Expedito, um dos maiores representantes da Arte Santeira no estado. Em 2011, o Iphan integrou essa manifestação ao Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), e, em 2019, pesquisas de campo e debates com as comunidades consolidaram o dossiê de registro.
Essa forma de arte está presente em cidades como Parnaíba, Campo Maior, Pedro II e José de Freitas, além de Teresina, e reúne cerca de 50 santeiros. Cada artista desenvolve um estilo próprio, sem padronização, entalhando figuras sagradas e profanas que refletem a flora e fauna locais, com elementos como carnaúbas, bacuraus e mandacarus.
Igreja de Nossa Senhora de Lourdes: o símbolo da Teologia da Libertação
Construída entre as décadas de 1960 e 1970, a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes tornou-se um importante símbolo cultural e religioso de Teresina. Também conhecida como Igreja Vermelha devido à sua aproximação com as classes trabalhadoras, a edificação reflete os princípios da Teologia da Libertação, que prioriza uma igreja simples e voltada para o povo.
- A igreja foi tombada provisoriamente em 2011;
- Agora, sua proteção é definitiva, incluindo seu acervo de bens móveis e integrados;
- O reconhecimento abrange o ambão, bancos, genuflexórios, forro, a gruta de pedra e o Sacrário com moldura em madeira.
Segundo o conselheiro José Reginaldo Gonçalves, a igreja carrega um significado especial para a comunidade de artistas santeiros do Piauí. “A arte em madeira é simbólica e socialmente parte inseparável desse discurso”, afirmou.
A elaboração do Plano de Salvaguarda
Com o reconhecimento, o Iphan desenvolverá um Plano de Salvaguarda, um documento para orientar políticas públicas que assegurem a preservação e sustentabilidade da Arte Santeira. Esse plano envolve a participação dos santeiros e de instituições parceiras, buscando fortalecer essa prática artística e sua valorização cultural.
O dossiê de reconhecimento enfatiza que a Arte Santeira do Piauí é única e reivindica uma marca própria, refletindo a individualidade de cada santeiro e resistindo à reprodutibilidade técnica. Segundo o documento, “não se trata de uma arte ligada a processos de reprodutibilidade técnica, mas de uma produção com especificidades estilísticas apreciadas por um público de dentro e de fora do estado.”
Patrimônio cultural e memória coletiva
O acervo da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes e a Arte Santeira em Madeira representam importantes elementos de memória coletiva e identidade cultural para o Piauí. O reconhecimento pelo Iphan fortalece a preservação de tradições e expressões artísticas fundamentais para a cultura local e nacional.
O inventário de obras e o envolvimento das comunidades detentoras desses patrimônios consolidam o legado histórico e artístico do Piauí, conectando o estado às iniciativas de preservação cultural no Brasil.