18 de outubro de 2024

Invasão de Javalis na Amazônia: Uma Ameaça Crescente à Biodiversidade Local

Espécie Estrangeira Avança sem Predadores Naturais e Desafia o Ecossistema da Região.

Quando pensamos em pragas, geralmente imaginamos insetos como baratas, mosquitos ou ratos em áreas urbanas. Em cenários agrícolas, gafanhotos e cupins vêm à mente, destruindo extensas plantações. No entanto, uma espécie invasora de natureza diferente vem ganhando terreno em território brasileiro, trazendo ameaças à biodiversidade, inclusive na Amazônia: estamos falando do javali.

Ao contrário da imagem simpática do personagem Pumba, do clássico ‘Rei Leão’, os javalis são altamente prejudiciais para a fauna e flora locais. Sua interação com porcos domésticos resulta em uma raça híbrida conhecida como porco feral, que pode ser perigosa até mesmo para humanos e grandes predadores, como as onças-pintadas.

O Portal Amazônia entrevistou o Dr. Rogério Fonseca, professor de biologia e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), para entender melhor as implicações da expansão desta espécie invasora e como podemos enfrentar esse desafio crescente.

Um Visitante Indesejado

Ecossistemas são espaços onde comunidades interagem harmoniosamente, formadas por diferentes espécies de animais, plantas e outros organismos. Essa estabilidade pode ser abalada com a chegada de espécies estrangeiras, que desequilibram a cadeia alimentar e competem por recursos com as espécies nativas.

É o que acontece com o javali, uma espécie não nativa que, ao ser introduzida em terras brasileiras, não encontra predadores naturais e se prolifera de maneira alarmante, ameaçando a biodiversidade local.

“O javali é uma espécie que não é nativa da fauna brasileira… Essa espécie exótica, por não ter inimigos naturais, teve uma predisposição de se tornar, também, invasora… Enquanto no ambiente nativo esse animal poderia ter uma ninhada de quatro a seis, aqui ele tem uma ninhada de oito, dez, até 12 bichos”, explica o Dr. Fonseca.

Segundo o especialista, os javalis foram introduzidos no Brasil na década de 90, numa tentativa equivocada de preservar espécies nativas através da substituição por espécies semelhantes, diminuindo assim a caça predatória.

Áreas devastadas por javalis em Roraima. Foto: Rogério Fonseca/Acervo Pessoal

Desafio Amazônico

Inicialmente, a preocupação com os javalis estava mais concentrada nas regiões Sul e Sudeste. No entanto, o avanço desta espécie já alcançou a Amazônia. A pesquisa do Dr. Fonseca revela que o javali já marca presença em cerca de 31% das bacias amazônicas, configurando uma ameaça direta ao ecossistema local.

Sua capacidade destrutiva é ampliada quando cruzam com porcos domésticos, resultando nos suídeos ferais, que podem até rivalizar com grandes predadores da região em termos de força, sem serem predados em troca.

Enfrentando a Praga

A burocracia relacionada ao manejo dessa espécie tem sido um grande obstáculo no combate a esta praga, de acordo com o Dr. Fonseca. Ele argumenta que a falta de ações efetivas dos órgãos governamentais contribui para a expansão contínua dos javalis, colocando em risco a biodiversidade da Amazônia e de todo o país.

“A extrema burocracia criada é o que protege e auxilia na conservação desta espécie exótica, invasora e praga… Mas nós temos que lidar com espécies invasoras de uma forma altamente técnica, sem criar mecanismos de burocracia para controlar essa espécie”, enfatiza.

Ele sugere a criação de cursos de capacitação por órgãos de extensão rurais e de gestão ambiental para lidar com este problema de forma eficaz e ágil.

Fonte: Portal Amazônia