Com mais de cinco milhões de quilômetros quadrados de floresta tropical, a Amazônia é fundamental para o Brasil e o mundo, tanto pela biodiversidade quanto pelo seu papel central em diversos ecossistemas. A região abriga populações tradicionais com conhecimentos ancestrais e uma extensa rede de rios que sustentam a vida local e a economia.
Apesar da sua importância, a Amazônia enfrenta desafios históricos relacionados à infraestrutura, como a expansão de rodovias e a dependência de combustíveis fósseis. Esses fatores contribuíram para desmatamento, degradação ambiental e desigualdades sociais, dificultando um desenvolvimento sustentável.
Nesse contexto, a infraestrutura verde ganha força. Entendida como soluções baseadas na natureza, ela articula conservação ambiental, serviços ecossistêmicos e uso sustentável dos recursos naturais. Isso inclui corredores ecológicos, sistemas agroflorestais, manejo florestal sustentável, energia renovável e outras soluções que integram preservação e economia.
A conexão com a bioeconomia é direta: ao fortalecer cadeias produtivas ligadas à sociobiodiversidade, ao conhecimento tradicional e à inovação tecnológica, a infraestrutura verde se torna essencial para promover o desenvolvimento sustentável e a inclusão social na Amazônia.
Bioeconomia e Desenvolvimento Sustentável
A bioeconomia, que vem ganhando destaque nas últimas décadas, busca uma transição para modelos produtivos mais sustentáveis, integrando ciência, tecnologia, biodiversidade e conhecimento tradicional. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) define a bioeconomia como o uso de recursos biológicos renováveis para produzir bens, serviços, materiais e energia de forma inovadora.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) destaca uma visão mais ampla, que integra sustentabilidade ambiental, inclusão social e segurança alimentar. No Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) enfatiza o potencial industrial da bioeconomia, especialmente na geração de novos produtos e bioprocessos.
A bioeconomia amazônica se diferencia por estar profundamente enraizada na diversidade ecológica e sociocultural da região. A Amazônia abriga cerca de 20% das espécies vivas conhecidas e uma vasta rede de povos indígenas, ribeirinhos e comunidades extrativistas. Essa diversidade confere à região um potencial único para uma bioeconomia robusta e diferenciada.
A biodiversidade e o conhecimento tradicional geram oportunidades para o desenvolvimento de cadeias produtivas da sociobiodiversidade, como açaí, castanha, pirarucu e cumaru. Essas cadeias são sustentáveis, preservam a floresta, fortalecem a autonomia comunitária e promovem a inclusão social.
Infraestrutura Verde: Uma Nova Abordagem
A infraestrutura verde se fundamenta em soluções baseadas na natureza que integram funções ecológicas, sociais e econômicas. No contexto amazônico, a floresta, os rios e os sistemas agroflorestais já constituem uma infraestrutura natural que presta serviços essenciais, como regulação climática e proteção de nascentes.
A infraestrutura verde também inclui intervenções sustentáveis, como sistemas agroflorestais, mobilidade fluvial sustentável, saneamento ecológico e geração de energia renovável. Essas iniciativas promovem inclusão social, geração de renda e melhoria da qualidade de vida.
A infraestrutura verde e a bioeconomia se complementam. A infraestrutura verde cria as condições para que cadeias produtivas da sociobiodiversidade se desenvolvam com maior estabilidade e resiliência. Ao mesmo tempo, a bioeconomia contribui para a conservação da floresta e para a valorização do conhecimento tradicional.
A adoção desse modelo reposiciona a Amazônia como protagonista de uma transformação global voltada ao baixo carbono e ao uso sustentável dos recursos naturais, alinhando estratégias territoriais às agendas climáticas internacionais.
*Yunier Sarmiento Ramírez e Jose Barbosa Filho são os autores originais deste artigo.











