04 de novembro de 2024

Indigenista de Rondônia Homenageada: Neidinha Inspira Nome de Lagarto Descoberto na Amazônia

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Iphisa Surui é um dos cinco novos lagartos amazônicos identificados pela UFPE, tendo seu nome inspirado na incansável defensora da Amazônia e dos direitos indígenas, Ivandeide Bandeira, também conhecida como Neidinha Suruí.

Além de Ivandeide, outros heróis da floresta e dos povos indígenas foram honrados com essas descobertas, incluindo o indigenista Bruno Pereira, tristemente assassinado em 2022.

Os lagartos pertencem ao gênero Iphisa e são exclusivos da região amazônica, medindo aproximadamente quatro centímetros de comprimento quando adultos, além da cauda.

O Iphisa Surui, nomeado em homenagem a Neidinha, habita principalmente o sul da Amazônia, nas regiões de Mato Grosso e Rondônia. Sua coloração varia entre tons de dourado e castanho, com algumas partes do corpo exibindo iridescência ao serem iluminadas pelo sol.

Aqui estão os nomes das cinco novas espécies descobertas:

  1. Iphisa brunopereira: em tributo ao indigenista Bruno Pereira, que perdeu a vida em 2022 no Vale do Javari.
  2. Iphisa dorothy: em memória da missionária estadunidense Dorothy Stang, assassinada em 2005 no Pará, enquanto defendia terras destinadas aos sem-terra.
  3. Iphisa surui: homenageando a indigenista Neidinha Suruí e a etnia Paiter-Suruí.
  4. Iphisa munduruku: em homenagem à líder indígena Alessandra Korap Munduruku e à etnia Munduruku.
  5. Iphisa pellegrino: uma homenagem à professora Katia Pellegrino, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que dedicou décadas de trabalho à família do gênero Iphisa.

Quando Neidinha Soube da Homenagem

Quando soube que seu nome havia sido usado para batizar um lagarto amazônico, Neidinha ficou profundamente emocionada: “Eu fiquei tão emocionada, tão surpresa. Eu sou tão agradecida a esses professores. Eu não tenho palavras para agradecer, me senti tão honrada. Me dá vontade de chorar de tão emocionada que eu fico. Eu falo para todo mundo: ‘Gente, agora eu sou um lagarto’. Eu morro de medo de me tatuar, mas eu vou tatuar esse lagarto em mim.”

Mãe de ativista indígena, Txai Suruí, Neidinha Suruí — Foto: arquivo pessoal

A Trajetória de Neidinha Suruí

Com 63 anos, Neidinha tem uma história rica em defesa da floresta, dos povos indígenas e dos direitos humanos, um compromisso que vem desde sua juventude. Criada na reserva do Uru-Eu-Wau-Wau até os 12 anos, ela se mudou para a cidade para estudar, onde foi motivada por livros que retratavam os brancos como heróis que combatiam e derrotavam os indígenas. Esse contexto a impulsionou a lutar contra tais injustiças.

Sua jornada começou na escola, onde já se destacava em atividades relacionadas às suas causas. Desde jovem, atuou como voluntária, denunciando desmatamentos, mortes de indígenas e expulsões de seus territórios. Ela também trabalhou na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e coordenou ações de monitoramento e proteção dos povos indígenas Uru-Eu-Wau-Wau.

Em 1992, Neidinha fundou a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, com a missão de promover os direitos humanos e a proteção do meio ambiente, particularmente na defesa dos povos indígenas.

Enfrentando Ameaças

Sua corajosa atuação ao longo dos anos não foi sem riscos. Neidinha frequentemente enfrenta ameaças, incluindo ameaças de morte, mas sua dedicação à floresta, à natureza e aos direitos humanos continua inabalável.

Seu Legado

Mãe de Txai Suruí, uma ativista indígena reconhecida mundialmente, Neidinha inspirou sua filha a seguir seus passos na luta pela proteção da Amazônia e dos povos indígenas. Txai ganhou destaque internacional, tornando-se a única brasileira a discursar na abertura da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) em 2021.

Neidinha, como mãe, mentora e inspiração, sente um profundo orgulho das realizações de sua filha, mas acredita que ainda há muito a ser feito: “Ainda não estou completamente realizada, acho que tenho muito trabalho pela frente. Conquistei parte dos meus objetivos, da minha luta.”

Lagarto Iphisa surui — Foto: Ricardo Kawashita-Ribeiro/Divulgação