13 de dezembro de 2024

Incêndios na Amazônia estão empobrecendo a diversidade e estoque de carbono

peixe-post-madeirao

Pesquisadores identificaram que os incêndios florestais recorrentes na Amazônia estão transformando o bioma em uma floresta secundária, menos diversa e com menor capacidade de armazenar carbono. O estudo, financiado pelo Instituto Serrapilheira, revela uma queda de até 68% no estoque de carbono em áreas afetadas pelo fogo.

A pesquisa analisou regiões de transição entre a Amazônia e o Cerrado, demonstrando como o fogo impacta negativamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

Estudo revela impactos das queimadas na floresta

O trabalho foi conduzido por cientistas liderados por Fernando Elias, da Universidade Federal Rural da Amazônia, e Maurivan Barros Pereira, da Universidade Estadual do Mato Grosso. Eles investigaram 14 áreas florestais divididas em três categorias:

  • Florestas sem queimadas
  • Florestas queimadas uma vez
  • Florestas com múltiplos incêndios

Os pesquisadores coletaram dados sobre o número de espécies, a densidade de troncos e o estoque de carbono acima do solo.

Floresta secundária: menos biodiversidade e carbono

Os resultados mostram que a Amazônia não está se tornando uma savana, mas sim uma floresta secundária. Segundo Fernando Elias:

“A Amazônia não está virando uma grande savana, ela está virando uma floresta secundária… com menos estoque de carbono e menos indivíduos.”

Essa transformação é preocupante porque as florestas secundárias são menos eficientes na captura de dióxido de carbono (CO₂), afetando diretamente o equilíbrio climático global.

Risco de extinção para espécies florestais

Os pesquisadores também analisaram como diferentes espécies reagem ao fogo. Elas foram classificadas em três grupos:

  • Espécies do Cerrado
  • Espécies florestais
  • Espécies generalistas

Foi observado que:

  • As espécies florestais, mais sensíveis ao fogo, sofreram um declínio significativo.
  • Já as espécies do Cerrado e generalistas mantiveram sua presença.

Fernando Elias explica:

“O súber, que é a casca, em algumas espécies florestais é muito fino ou até ausente. Diante do fogo, essas espécies são extremamente vulneráveis e podem ser extintas localmente.”

Perda de serviços ecossistêmicos

Além do risco de extinção, a degradação das florestas também ameaça os serviços ecossistêmicos essenciais, como:

  • Regulação das chuvas
  • Sequestro de carbono para mitigar mudanças climáticas
  • Polinização

Segundo Elias:

“Essas florestas queimadas não conseguem mais fornecer os variados serviços ecossistêmicos que uma floresta original fornece à sociedade.”

Queda drástica no estoque de carbono

A pesquisa revelou que os incêndios reduzem drasticamente a capacidade das florestas de armazenar carbono. Os dados mostram que:

  • Florestas sem queimadas armazenam cerca de 25,5 toneladas de carbono por hectare.
  • Florestas queimadas uma vez armazenam apenas 14,1 toneladas por hectare.
  • Florestas queimadas várias vezes caem para apenas 8 toneladas por hectare.

Cada incêndio não apenas emite gases de efeito estufa, mas também libera o carbono armazenado na vegetação.

Regiões vulneráveis no arco do desmatamento

As áreas analisadas ficam nas divisas dos estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso, uma região conhecida como Arco do Desmatamento. Fatores que contribuem para a degradação incluem:

  • Expansão agropecuária próxima às florestas
  • Clima mais seco que o de outras regiões amazônicas
  • Legislação permissiva que permite desmatar até 80% das áreas de Cerrado

Elias alerta para o risco de considerar essas áreas como Cerrado:

“São áreas tratadas como Cerrado, mesmo tendo elevado estoque de carbono e espécies amazônicas.”

Importância do financiamento à ciência

O estudo, intitulado Mudanças Pós-fogo na Diversidade, Composição e Carbono das Árvores em Períodos Sazonais das Florestas no Sul da Amazônia, contou com o apoio do Instituto Serrapilheira.

Desde 2017, o instituto já financiou mais de 300 projetos científicos no Brasil, investindo cerca de R$ 90 milhões em pesquisas e divulgação científica.

Conclusão: proteger a amazônia é proteger o planeta

Os incêndios frequentes na Amazônia não só reduzem a biodiversidade como também comprometem a capacidade da floresta de combater as mudanças climáticas. Proteger o bioma amazônico é fundamental para garantir um futuro sustentável para o planeta.