Um aplicativo que utiliza inteligência artificial (IA) para criar avatares de pessoas falecidas tem despertado discussões na internet. O 2Wai, desenvolvido por uma startup nos Estados Unidos, permite a recriação virtual de indivíduos com base em vídeos gravados em vida, possibilitando interações ao vivo.
Como funciona o 2Wai?
O processo envolve o upload de um vídeo de aproximadamente três minutos da pessoa no aplicativo. A partir dessas imagens, a IA desenvolve um “HoloAvatar”, como a empresa denomina, capaz de falar, reconhecer o usuário e recordar informações pregressas. O 2Wai afirma que o avatar pode replicar a voz e os maneirismos do indivíduo original.
A tecnologia viralizou no X (antigo Twitter) com um vídeo mostrando uma mulher grávida conversando com um avatar de sua mãe falecida, incluindo a interação da avó com o bebê e, posteriormente, com a criança já crescida. O vídeo, publicado por Calum Worthy, cofundador da 2Wai e conhecido por seu papel na série “Austin & Ally”, já alcançou mais de 40 milhões de visualizações.
Embora o aplicativo esteja atualmente disponível apenas para iPhone (iOS) nos EUA, a empresa planeja expandir para dispositivos Android em breve. O serviço é gratuito por enquanto, mas a 2Wai indica a possibilidade de introduzir assinaturas e compras dentro do aplicativo no futuro.
Debate sobre o luto e a realidade virtual
A tecnologia tem gerado reações mistas. Muitos usuários expressaram críticas, questionando a ética e o impacto emocional de “reviver” pessoas falecidas. A principal preocupação é que o uso da IA possa dificultar o processo de luto, criar dependência afetiva e gerar uma ilusão de realidade.
Mariana Malvezzi, psicóloga e psicanalista da ESPM, alerta para os riscos de dependência e confusão entre o real e o simulado, especialmente durante o período de luto. Segundo ela, a tecnologia pode minar a autonomia emocional e dificultar a ressignificação da perda.
Pesquisa recente da ESPM revelou que um em cada quatro brasileiros se imagina utilizando inteligência artificial para conversar com familiares já falecidos. O levantamento, realizado com 267 participantes que perderam entes queridos nos últimos dois anos, demonstra o crescente interesse e a complexidade das questões envolvidas.
O 2Wai não se limita a recriar pessoas falecidas. A empresa afirma que é possível gerar “HoloAvatares” de personagens, como personal trainers ou astrólogos.
A utilização de IA para lidar com o luto não é novidade. Casos recentes, como a utilização de uma versão de IA de uma vítima de homicídio em um julgamento no Arizona e a “entrevista” com um avatar de um jovem falecido em um massacre escolar na Flórida, demonstram a crescente aplicação dessa tecnologia em contextos delicados.











