O recente caso de demissões no banco Itaú, onde mais de mil funcionários em regime remoto ou híbrido foram desligados após monitoramento de atividades, reacendeu o debate sobre a vigilância no trabalho. A empresa utilizou métricas como uso de mouse e teclado, videochamadas e tempo gasto em softwares para avaliar o desempenho dos colaboradores.
Embora o monitoramento de funcionários em home office não seja novidade – prática intensificada desde o início da pandemia – o nível de detalhamento aplicado no caso do Itaú chamou a atenção. O banco nega ter capturado telas, áudio ou vídeo, para evitar violações da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A BBC News Brasil testou duas plataformas de monitoramento, XOne e Teramind, e constatou que elas permitem, em tempo real, visualizar o que cada funcionário está fazendo, quais sites acessa e identificar ações que descumprem as políticas da empresa – como acesso a sites proibidos ou envio de informações confidenciais por e-mail. A Teramind oferece uma demonstração pública com telas de monitoramento ao vivo e rankings de produtividade.
A XOne, por sua vez, teve o acesso à plataforma de demonstração suspenso após a repercussão do caso Itaú, alegando sobrecarga de solicitações. A empresa não confirma nem nega o uso do software pelo banco.
As ferramentas também oferecem recursos como histórico de navegação, controle remoto do computador, monitoramento de redes sociais e identificação de comportamentos suspeitos, como buscas por emprego ou uso de navegação anônima. A Teramind foi citada em ações trabalhistas, onde funcionários alegavam controle excessivo de jornada e monitoramento de ligações.
Especialistas ressaltam que o monitoramento não é ilegal, desde que seja transparente e comunicado aos funcionários. No entanto, questionam a necessidade de coletar tantos dados e alertam para o impacto na pressão sobre os trabalhadores.
No Brasil, a discussão sobre a privacidade no ambiente de trabalho ganha força, com o aumento do trabalho remoto e a sofisticação das ferramentas de monitoramento. A necessidade de um equilíbrio entre a gestão empresarial e o direito à privacidade dos funcionários se torna cada vez mais evidente.
Em São Paulo, o debate se intensifica, considerando a concentração de empresas e a crescente adoção de modalidades de trabalho flexíveis. A tendência é que a discussão sobre os limites do monitoramento se torne um ponto central nas relações trabalhistas nos próximos anos.