18 de outubro de 2024

Hepatite Delta avança entre ribeirinhos no Amazonas

Apenas uma pequena parte dos pacientes está em tratamento, diz Fiocruz

Casos de hepatite Delta entre ribeirinhos no Amazonas estão preocupando autoridades de saúde e pesquisadores da Fiocruz. A doença, que pode ser silenciosa, é a mais agressiva entre as hepatites virais, podendo causar cirrose, câncer e até levar à morte. Apesar da alta incidência, poucos pacientes estão em tratamento, segundo a Fiocruz.

Desde junho deste ano, uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Rondônia e profissionais de Saúde de Lábrea (AM) está acompanhando comunidades ribeirinhas na região sul do Amazonas. O Centro de Testagem Rápida e Aconselhamento (CTA) da Secretaria Municipal de Saúde de Lábrea (AM) notificou cerca de 1,4 mil casos da doença na cidade, mas apenas 140 pacientes estão em acompanhamento.

Em Lábrea, os pesquisadores e profissionais de saúde visitaram as comunidades ribeirinhas de Várzea Grande e Acimã, no Rio Purus. Durante dois dias, foram realizados testes rápidos e exames laboratoriais, com foco no diagnóstico e rastreamento das hepatites virais, especialmente a hepatite Delta. Dos 113 moradores atendidos, 16 foram diagnosticados com a doença.

As amostras são enviadas para a Fiocruz Rondônia, onde são processadas e avaliadas. Os indivíduos com diagnóstico positivo recebem assistência da equipe de saúde de Lábrea e do Ambulatório de Hepatites Virais, que auxilia na conduta clínica dos pacientes.

Segundo o último Boletim Epidemiológico sobre Hepatites Virais, de 2023, divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, entre 2000 e 2022, foram diagnosticados 4.393 casos de hepatite Delta no Brasil. A maior incidência foi na Região Norte, com 73,1% dos casos, seguida pelas regiões Sudeste (11,1%), Sul (6,6%), Nordeste (5,9%) e Centro-Oeste (3,3%). Em 2022, foram 108 novos diagnósticos, com 56 (51,9%) na Região Norte e 23 (21,3%) no Sudeste.

Hepatite Delta

A hepatite Delta pode não apresentar sintomas iniciais. Está associada a uma maior ocorrência de cirrose, até mesmo dentro de dois anos da infecção, podendo levar a outras complicações como câncer e até morte.

Quando há sintomas, os mais frequentes são: cansaço, tontura, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. A principal forma de prevenção é a vacina contra hepatite B.

A doença pode ser transmitida por relações sexuais sem preservativo com uma pessoa infectada; da mãe infectada para o filho durante a gestação e parto; pelo compartilhamento de material para uso de drogas, como seringas, agulhas e cachimbos; compartilhamento de materiais de higiene pessoal, como lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, alicates de unha ou outros objetos que furam ou cortam; na confecção de tatuagens e colocação de piercings; e em procedimentos odontológicos ou cirúrgicos que não seguem normas de biossegurança.

Para se proteger, é importante usar preservativos em relações sexuais e não compartilhar objetos pessoais que possam entrar em contato com cortes, como lâminas de barbear, equipamentos para piercing e tatuagem, entre outros.

Tratamento

Não há medicamentos que promovam a cura da hepatite Delta. O tratamento visa controlar os danos ao fígado para evitar a progressão da doença. As terapias são disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além do tratamento medicamentoso, é recomendado evitar o consumo de bebidas alcoólicas.

Testes

Um dos desafios é a testagem da doença para que seja detectada a tempo de um tratamento eficaz. A rede pública dispõe do teste de carga viral apenas para hepatite B, e os exames sorológicos disponíveis no SUS mostram apenas se o indivíduo teve contato com o vírus, sem informar a carga viral atual e se o vírus está se replicando no organismo. Segundo o Laboratório de Virologia Molecular, isso é crucial para a definição da conduta clínica adequada ao paciente.

A Fiocruz Rondônia começou a fazer testes de carga viral nos pacientes, utilizando um método molecular para quantificação do vírus HDV, causador da hepatite Delta, desenvolvido pelo próprio Laboratório de Virologia Molecular e atualmente já aplicado no diagnóstico e monitoramento de pacientes em Rondônia e Acre. Essa tecnologia ainda não é oferecida pelo SUS.