Teto: Conheça história de rapper que foi disputado por produtoras antes mesmo do 1º lançamento

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Teto: Conheça história de rapper que foi disputado por produtoras antes mesmo do 1º lançamento

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Revelação do trap ficou conhecido com músicas vazadas e por briga entre produtoras. Baiano de 19 anos liga o gravador no quarto e ‘solta verdades’, mas nunca fez show; ouça podcast. Como um rapper pode fazer sucesso nacionalmente em um ano de pandemia, sem shows e direto do interior da Bahia? Teto viu seu nome ganhar projeção ao fazer lives mostrando suas músicas.
Esqueça o glamour e a produção de grandes artistas em tempos pandêmicos. O artista baiano simplesmente abria o Instagram e cantava (e curtia) suas músicas.
O podcast G1 Ouviu conta histórias de cinco jovens MCs de trap que fazem muito sucesso e furam a bolha do estilo. Ouça acima.
O sucesso foi tão grande que saiu do controle. Os trechos das “prévias”, jeito pelo qual as músicas ficaram conhecidas, já que não tinham sido lançadas oficialmente, estão em vídeos com milhões de visualizações em canais que não pertencem ao rapper.
“Não foi nada planejado, na verdade. Sentia muita energia quando colocava meu som e eu precisava que a galera sentisse isso também. Fiz disso a minha saída”, explica ao G1.
“Pegava meu celularzinho, botava lá e fazia minha live. A galera entrava, eu mostrava meu som, curtia e isso contagiou muito a rapaziada. Foi uma parada muito massa, e a galera viu que eu era um moleque diferente”.
Teto começou fazendo lives na internet e mostrando as músicas que tinha feito em seu quarto
Reprodução
O lançamento do primeiro EP, “Prévias.zip”, aconteceu meses depois e rolou até uma disputa e briga entre produtoras que queriam o artista. Entenda “corrida de contratação” mais abaixo.
“Paypal”, “Manha”, ” Dia Azul” e “Fashion” já são conhecidas do público, apesar de Teto dizer que a última é inédita.
As faixas foram mixadas e lançadas no dia 1º de abril . Juntos, os quatro clipes acumulam mais de 15 milhões de visualizações.
Após essa temporada informal, Teto garante daqui para frente não tem mais prévia, apesar de ter mais de 100 músicas inéditas. Agora, é tudo organizado e dentro do cronograma.
“É como se tivesse pulado essa fase de transição desse garoto para a pessoa que sou hoje. Geralmente a galera espera que a gente trampe, faça um projeto bem feito de cara, mas aconteceu como tinha que acontecer e mudou muito a minha cabeça”, diz.
Mas quem é o Teto?
Clériton Sávio Santos Silva tem 19 anos e é de Jacobina, uma cidade mais de 300 km distante de Salvador, na Bahia.
Ele lembra de ouvir o pai tocando e cantando em casa desde os 8 anos, então pagode, axé e MPB são gêneros que sempre estiveram por perto.
Tanto que fazer parcerias com outros gêneros, como o funk, não é uma ideia descartada.
Teto começou a compor aos 12 anos e até hoje grava tudo no seu quarto, local de onde fez também a entrevista.
Rapper Teto faz sucesso no trap sem ter feito nenhum show na vida
Reprodução/YouTube/30praum
“Sempre me gravei aqui. Pego o beat, abro no programa de gravação e começo, vou cuspindo as verdades. Nunca escrevi uma letra na minha vida”, explica.
O conceito do 1º EP brinca com o nome do artista que anda pelo teto, de cabeça para baixo, mas também representa como ele se sentia.
“Era mais ou menos assim que eu me via quando estava no meu quarto gravando, via tudo invertido. Vim para virar tudo de cabeça para baixo, fazer aquela velha bagunça”.
30praum x Hash
De um lado Teto e Matuê, da 30praum e do outro Rafael Novaes, da Hash Produções; Briga entre produtoras acabou respingando em Jovem Dex (3º da esquerda para direita)
Divulgação; Reprodução/Instagram/Matuê; Reprodução/Instagram/RafaelNovaes
O sucesso das prévias na internet fez com que o passe de Teto ficasse valorizado, o que gerou até uma briga entre as duas maiores produtoras de rap do nordeste: Hash Produções e 30praum.
O rapper era um dos artistas de Rafael Novaes, a Hash, mas optou por sair para ir para a empresa cearense, que tem Matuê como um dos sócios.
“A galera fala e especula muita coisa, mas a verdade é que sempre quis ver meu trabalho valorizado, sempre quis ver o mercado evoluir e dentro da Hash Produções não sentia seriedade, não sentia que levavam isso tão a sério quanto eu levava”, explica Teto sobre o motivo da briga.
Dali em diante, foram várias as provocações de ambos os lados.
Novaes, da Hash, acusou Matuê de “roubar” o artista e cobrou o investimento feito em Teto.
O rapper cearense chegou a dizer, em tom de pirraça, que colocaria o lançamento de Teto no mesmo dia de Jovem Dex, artista da Hash.
Novaes postou um vídeo com milhares de reais em espécie, no qual pedia para Matuê mandar “um Pix”. Tudo isso depois de falar que ele estava precisando de atenção ou de dinheiro.
Teto também botou pilhas nos tweets, mas preferiu se esquivar ao responder sobre a confusão na internet.
“Não quero me meter nessa briga, não, só estou aqui fazendo meu trabalho e, independente de tudo, quero que a galera curta o meu som”.
No final das contas, “Prévias.Zip” saiu no começo de abril, um dia antes do segundo lançamento de Jovem Dex, outro rapper baiano que tem feito sucesso no trap.
O rapper de “Nav”, que também é baiano, está lançando o primeiro disco em quatro partes desde março.
Matuê e ‘M4’
Efeito da pandemia: Rapper Teto tem mais de 50 milhões de visualizações em seus clipes, mas ainda não fez nenhum show
Divulgação
Antes mesmo do seu primeiro EP, o artista lançou “M4”, uma parceria bem sucedida com Matuê.
Se “MDS”, hit de Kawe & Lele JP, fala de vários tipos de drogas, o primeiro grande sucesso de Teto fala basicamente de armas e chegou a ficar entre as mais tocadas no Brasil nos streamings. No Youtube, são mais de 50 milhões de visualizações.
“Calibre 12, eu só falo de arma / Deve ser porque eu só durmo com ela / Eu amo minha Scar, eu não amo mais ela”, são alguns dos versos.
“Quem começou esse som fui eu, gravei totalmente de freestyle aqui no quarto. Achei esse beat na internet e baixei rapidinho. O som ficou guardado uns meses, mandei para o Matuê, ele gostou muito e já quis logo gravar”.
Apesar de a linguagem ser bem explícita no trap em relação a drogas, violência e sexo, Teto diz que não quer fazer apologia às armas.
“Quando eu falo ‘M4 esperando por mim’ é uma forma de dizer que eu sou um M4 e quero atirar na galera através do meu verso”, explica.
“Cito no meu som esse tipo de coisa, porque é uma forma de me expressar. Quando estou com um microfone, são várias ideias na mente e acabo soltando coisas que estão na minha vivência, no meu dia-a-dia”.
À espera do 1º show
Rapper Teto é um dos representantes do trap, subgênero do rap nascido em Atlanta, no sul dos EUA
Reprodução/Instagram/EuTeto
Por falar em microfone na mão, Teto teve mais destaque durante a pandemia e, por isso, nunca fez um show na vida. Ele não vê a hora desse momento chegar.
“Não dá para comparar, mas sinto um pouco da energia quando encontro a galera na rua [em Jacobina]. Povo fala do meu som, vibra, galera chega junto cantando.
“O que todo artista quer é isso, sentir essa energia. Todo dia eu fico no quarto me imaginando no show, cantando, é muito chave isso”.
Ele fala com muita admiração do lugar em que veio e quer ficar por lá, só não sabe se a rotina com a agenda cheia vai permitir.
“Quero sempre colocar minhas vivências do Nordeste, citar minha cidade, carrego isso no peito. Você tem que crescer no lugar que você veio e depois procurar outros ares… Penso desse jeito”.