O físico paraense Luís Carlos Bassalo Crispino, de 54 anos, recebeu o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica 2025, concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O reconhecimento é pela sua atuação em levar a ciência, especialmente a física, para além das universidades, alcançando escolas e comunidades na região amazônica.
Há mais de duas décadas, Crispino iniciou um projeto na Universidade Federal do Pará (UFPA) com a criação do Laboratório de Demonstrações do Departamento de Física. O objetivo era despertar o interesse de estudantes de graduação e do ensino médio pela área, oferecendo atividades práticas e acessíveis.
Essa iniciativa evoluiu para o Centro Interativo de Ciência e Tecnologia da Amazônia, inaugurado em 2022 no campus da UFPA. O centro oferece experimentos, observações astronômicas e outras atividades de divulgação científica para alunos de escolas públicas e privadas da região. A proposta é mostrar a ciência de forma lúdica e envolvente, estimulando o aprendizado e a curiosidade.
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Física da UFPA – o primeiro da região amazônica – Crispino também lidera o grupo de pesquisa Gravity at Amazonia (Gravazon), dedicado ao estudo de buracos negros. Ele falou sobre suas atividades e a importância da divulgação científica em uma entrevista para a Revista Pesquisa FAPESP.
A importância da divulgação científica
Crispino destacou que o prêmio é um reconhecimento ao seu trabalho de mais de 20 anos em prol da divulgação da ciência. Ele lembrou que tudo começou em 2004 com o Laboratório de Demonstrações, inspirado em um modelo da Universidade de São Paulo (USP). “A princípio, recebíamos o público da própria universidade, mas depois ampliamos para alunos de escolas públicas e particulares, sempre de forma gratuita”, explicou.
Além do laboratório, Crispino desenvolveu o projeto “Física e Tecnologia para a Escola”, que leva cientistas, professores e estudantes universitários para realizar palestras em escolas. Dentro desse projeto, foram criadas as “Palestras Vocacionais”, que visam orientar estudantes na escolha de suas carreiras, e o projeto “Meninas na Ciência”, que busca incentivar a participação de mulheres em uma área historicamente dominada por homens.
Atividades em comunidades ribeirinhas e indígenas
O físico também relatou experiências marcantes ao levar atividades científicas para comunidades ribeirinhas e indígenas. Um exemplo foi a cobertura do eclipse anular do Sol em outubro de 2023, um fenômeno raro visível na Amazônia. Crispino organizou a observação do eclipse em São Félix do Xingu, levando equipamentos para escolas e aldeias indígenas.
“A ação faz parte de um projeto de mostras itinerantes de astronomia e ciências espaciais, com a meta inicial de 20 cidades, já atingida. Continuo prorrogando, enquanto há recursos”, contou. Ele também mencionou o sonho de ter um barco equipado para levar experimentos científicos para as ilhas de Belém.
Superando desafios e inspirando futuros cientistas
Crispino enfatizou a importância de investir em ciência e educação na Amazônia, garantindo que jovens da região tenham acesso às mesmas oportunidades que outros em centros mais desenvolvidos do país. Ele também destacou a necessidade de desmistificar a ciência e torná-la mais acessível à população, combatendo o negacionismo e o descrédito.
“Vivemos um momento de ataque às universidades, de negacionismo e de descrédito da ciência em parcela significativa da população e acredito que isso está também relacionado ao comportamento de alguns cientistas e membros da comunidade acadêmica”, finalizou.
*Conteúdo originalmente publicado pela Revista Pesquisa Fapesp, escrito por Sarah Schmidt











