Facção criminosa investigada por golpes e tráfico já teria mantido contato com o PCC, segundo informações do Ministério Público.
O Povo de Israel, uma facção criminosa que domina vários presídios do Rio de Janeiro, está sendo investigada por golpes e extorsões que somam mais de R$ 67 milhões em dois anos. Além disso, o grupo teria estabelecido ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), de acordo com o Ministério Público (MP).
Contato com o PCC
As investigações apontam que Avelino Gonçalves Lima, conhecido como Alvim, líder do Povo de Israel, teria feito contatos com o PCC enquanto estava preso na Cadeia Pública Inspetor Luis Fernandes Bandeira Duarte, em Resende (RJ), entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020. Nesse período, ele teria autorizado o “batismo” de novos membros do PCC em internos sob o seu comando nas unidades prisionais do Rio.
Fontes ligadas à segurança pública de São Paulo ainda estão apurando possíveis conexões entre o líder do Povo de Israel e a facção paulista.
Passagem por presídio federal
Alvim, condenado a 46 anos de prisão por crimes como homicídio, roubo e estupro, chegou a ser transferido para a Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) em junho de 2023, mas voltou ao sistema prisional do Rio em agosto do mesmo ano, sendo alocado no Complexo de Gericinó, em Bangu.
Ele está preso há 25 anos e, segundo as investigações, é responsável por liderar rebeliões, ordenar expulsões de membros e planejar crimes de dentro da prisão.
Surgimento e influência da facção
A facção Povo de Israel surgiu há cerca de 20 anos, inicialmente composta por detentos condenados por estupro, que geralmente são rejeitados por outras facções. Atualmente, o grupo conta com aproximadamente 18 mil membros, distribuídos por 13 unidades prisionais no estado do Rio de Janeiro, o que representa cerca de 43% do total de presos no estado.
A facção utiliza celulares dentro dos presídios para realizar golpes de falso sequestro, conhecidos como “disque-extorsão”, e extorquir dinheiro de vítimas do lado de fora. Os golpes são realizados de maneira organizada, com divisão de funções entre os criminosos.
Golpes e bloqueio de contas
O Ministério Público do Rio de Janeiro conseguiu bloquear 84 contas bancárias de pessoas e empresas ligadas ao Povo de Israel. Entre janeiro de 2022 e maio de 2023, essas contas movimentaram mais de R$ 67 milhões, sendo que empresas dos setores de construção, atacado, joalheria, loteria e comércio foram usadas para lavar o dinheiro obtido pelos criminosos.
Um trecho do inquérito da Polícia Civil descreve a atuação da facção: “A extorsão é realizada de maneira sistematizada, com divisão de tarefas ilícitas […] consistentes em exigir pagamento de resgate por um familiar falsamente sequestrado.”
Crimes dentro dos presídios
O Povo de Israel também é suspeito de envolvimento em diversas rebeliões e assassinatos dentro das prisões. Em 2004, após um pedido de isolamento de seus membros ser negado, a facção iniciou uma rebelião no Presídio Ary Franco, que resultou na morte de oito detentos. Já em 2021, outra rebelião no presídio Romeiro Neto, em Magé, deixou um morto e quatro feridos.
Além disso, em 2022, dois detentos do presídio Romeiro Neto foram assassinados por enforcamento, supostamente por estarem envolvidos em um plano de sequestro contra a filha de um ex-membro da facção.
A facção também estaria envolvida no tráfico de drogas dentro das prisões. Em setembro de 2023, agentes penitenciários apreenderam drogas e celulares avaliados em R$ 1,5 milhão no presídio Nelson Hungria, em Gericinó. A carga estava escondida em um caminhão de refeições que seria entregue aos detentos.
Prisão de policiais penais
Em setembro de 2023, dois inspetores do presídio Romeiro Neto foram presos em flagrante ao serem encontrados com 200 tabletes de maconha. As drogas estavam escondidas no teto de um banheiro dentro da unidade prisional.