18 de outubro de 2024

Estratégias em Análise para Combater a Podridão de Grãos de Soja em RO e MT

Cientistas exploram fungicidas e variedades de soja para amenizar o problema que perdura desde a safra de 2018/2019.

A busca por cultivares de soja mais resistentes e o emprego de fungicidas têm sido a linha de frente na luta contra a podridão de grãos que vem assolando as lavouras de Rondônia e Mato Grosso desde a safra 2018/2019. Essas alternativas surgem como respostas promissoras, conforme indicam as redes de pesquisa focadas no assunto. O que antes era conhecido como anomalia da soja, se tornou mais recorrente especialmente na região do médio-norte mato-grossense e em terras rondonienses.

Várias espécies de fungos foram encontradas em vagens com e sem sinais de apodrecimento, mas a origem do problema ainda é um mistério.

É por isso que múltiplas redes de pesquisa multidisciplinares estão debruçadas sobre variáveis como clima, qualidade do solo, nível de lignina entre outros fatores que podem estar relacionados com a enfermidade.

A publicação ‘Eficiência de fungicidas para o controle do podridão de grãos da soja’ surge como um dos primeiros frutos do trabalho que avalia a eficácia dos fungicidas no manejo da doença.

Em outra frente, foi analisada a resposta de 54 variedades de soja (42 transgênicas e 12 convencionais) à podridão, verificando o nível de resistência de cada uma ao problema.

Desafios Contínuos Desde a safra 2018/2019, o desafio persiste, causando prejuízos principalmente em Mato Grosso e Rondônia. Isso catalisou a formação de redes de pesquisa dedicadas a entender a raiz do problema e a elaborar estratégias de manejo.

“Durante as visitas à região, observamos que o problema atingia as cultivares de maneira diferente e os sintomas respondem ao tratamento com fungicidas, por isso, foram formadas redes de ensaios cooperativos para avaliar a sensibilidade das cultivares à doença e a eficiência dos fungicidas”, aponta Mauricio Meyer, pesquisador da Embrapa Soja.

Inicialmente descritos como anomalias, os sintomas estão majoritariamente ligados à podridão dos grãos e das vagens. Inúmeras amostras revelaram um complexo de fungos de diversas espécies nos grãos, vagens e hastes, incluindo Fusarium, Diaporthe e Colletotrichum. Em algumas safras, também foi observada alta incidência de manchas-púrpura nos grãos, atribuídas a Cercospora spp.

“Esses fungos podem ser encontrados de forma latente na planta e nos grãos, (fungos endofíticos), sem causar sintomas aparentes: cada um associado a uma doença quando ocorrem os sintomas. Eles foram identificados mesmo em vagens e grãos sem sintomas”, esclarece a pesquisadora da Embrapa, Cláudia Godoy.

A pesquisadora detalha ainda que os sintomas começam a aparecer principalmente desde o enchimento de grãos (estágio R5) até a maturação (estágio R8). Segundo ela, as condições de estresse climático podem estimular os fungos latentes a iniciar a infecção. “Os fatores que desencadeiam a maior frequência de apodrecimento de grãos por esses patógenos nessas regiões ainda estão em estudo”, reitera Godoy.

Foto: Divulgação/Embrapa

Nos testes realizados na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT), diferentes espécies de fungos encontradas em vagens com sintomas de apodrecimento foram inoculadas em plantas de soja, mas até agora, nenhum desses isolados reproduziu os sintomas observados no campo.

A pesquisadora Dulândula Wruck menciona que também estão sendo realizados estudos técnicos de inoculação, uma vez que alguns isolados causam a morte da planta dias após a inoculação quando utilizada a técnica do palito. “Até agora com as informações que temos, é possível que outros fatores estejam envolvidos na manifestação dos sintomas, por isso que os projetos em andamento são multidisciplinares, analisando dados como clima, fertilidade e física do solo, teor de lignina, etc.

A maioria das empresas de pesquisa situadas no eixo da BR 163 no médio-norte do Mato Grosso está de olho no problema. “Os resultados da rede de fungicidas e de cultivares da safra 2022/23 são uma fonte de informação para o produtor, para auxiliar no manejo do problema”, assegura a pesquisadora.