Foto: Alailson Santos
O Centro Histórico de Manaus está prestes a ganhar um novo espaço cultural em um de seus mais emblemáticos edifícios. O prédio da antiga Escola Estadual Saldanha Marinho, que por mais de um século foi dedicado à educação, passa por uma grande transformação para abrigar um centro de artes e cultura, sob a gestão do Casarão de Ideias.
A história do local começou em 2 de janeiro de 1901, com a fundação da ‘Escola Modelo’, um projeto do governo de Silvério Nery para modernizar o ensino primário na capital amazonense. Embora a fase inicial tenha sido curta, o prédio se consolidou como um pilar da educação no Amazonas.
Um século de história na educação
Da ‘Escola Modelo’ ao tombamento
A instituição original, conhecida como ‘Escola Modelo’ da rua Saldanha Marinho, funcionou apenas até 1904. Em seu último ano, dividiu o espaço com a Escola Normal, que permaneceu ali até 1907. Contudo, em 1908, o prédio reabriu suas portas, já com o nome que o marcou por gerações: Grupo Escolar Saldanha Marinho.
Nas primeiras décadas, sob a direção da professora Júlia Bittencourt, o local também abrigou a Escola Universitária Livre de Manáos entre 1910 e 1913, com as instituições compartilhando o espaço em horários alternados.
Uma grande reforma em 1957 praticamente reconstruiu o edifício, conferindo-lhe a aparência que, em grande parte, mantém até hoje. A importância arquitetônica e educacional foi oficialmente reconhecida em 1988, quando o prédio foi declarado Monumento Histórico do Estado pelo Decreto nº 11.191.
Adaptações e desativação
Mesmo tombado, o prédio continuou a servir à educação. Em fevereiro de 1998, passou por uma nova reforma e foi adaptado para funcionar com seis salas de aula, atendendo exclusivamente ao Ensino Fundamental.
Apesar de seu papel central na história da cidade, o Grupo Escolar foi finalmente desativado em 2017. Em setembro de 2021, a gestão do imóvel foi transferida da Secretaria de Educação (Seduc) para a Secretaria de Administração (Sead), abrindo caminho para uma nova finalidade.
A nova vocação cultural
O projeto que não avançou
Antes de seu destino cultural ser selado, o prédio quase se tornou uma unidade de saúde. Em outubro de 2021, o governo estadual anunciou que o espaço seria cedido à Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam). Em janeiro de 2024, foi divulgado que o local se tornaria o ‘Hemoam Saldanha Marinho’, um núcleo de coleta de sangue.
No entanto, o projeto não foi adiante. Segundo João Fernandes, diretor do Casarão de Ideias, a fundação não cumpriu o prazo legal de dois anos para apresentar um plano de ações e obras para o edifício.
Casarão de Ideias assume o restauro
Com o impasse, a oportunidade surgiu para o Centro Cultural Casarão de Ideias (CCCI), que já manifestava interesse no prédio desde 2021. Em fevereiro de 2025, a instituição privada firmou um convênio com a Sead para assumir a restauração do espaço, uma ação que marca a comemoração de seus 15 anos de existência.
“Qualquer instituição da sociedade organizada pode pleitear uma edificação do poder público que esteja sem utilização”, explicou Fernandes.
Os desafios da restauração
“O prédio estava bem danificado”
Ao assumir o projeto, a equipe do Casarão de Ideias encontrou um cenário de abandono. O diretor descreveu a situação como “bem difícil”, resultado de mais de uma década de desocupação e vandalismo.
“Foram mais de dez anos desocupado, e nesse período houve roubos de materiais. Mexeram no telhado, e com as chuvas todo o assoalho e o piso ficaram danificados. Como se trata de um prédio histórico, parte das grades, adornos, portas e fios também foram levados”, detalhou João Fernandes.
Inauguração prevista para 2026
A obra de restauro já está em estágio avançado e busca recuperar características originais do edifício, ao mesmo tempo em que preserva as marcas de sua longa história. A inauguração do novo centro cultural está confirmada para 2026, embora um mês específico ainda não tenha sido definido.
“Durante a reforma, descobrimos modificações feitas ao longo da história do prédio e estamos devolvendo alguns aspectos originais, como o tamanho das janelas. […] Fizemos janelas de tempo no piso, mostrando como a estrutura era em outros momentos. Tudo isso está sendo feito com cuidado”, concluiu o diretor.
Com informações do Portal Amazônia











