Brasil está entre os líderes em número de casos, diz subprocuradora
Neste sábado (27), o Ministério Público do Trabalho (MPT) lança o documentário “Vidas Marcadas – Os Impactos Humanos dos Acidentes do Trabalho”. O filme homenageia pessoas que sofreram acidentes de trabalho e faz parte da campanha “Juntos por um Ambiente de Trabalho Seguro e Saudável”, em celebração ao Dia Nacional de Prevenção aos Acidentes do Trabalho.
História da Campanha
A subprocuradora-geral do Trabalho, Cristina Aparecida Ribeiro Brasiliano, explicou que a campanha surgiu após uma conciliação judicial com o consórcio responsável pela construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Vários acidentes de trabalho, alguns fatais, ocorreram durante a obra, levando ao embargo. Ao final, foi determinada a realização de uma campanha para reduzir esses acidentes.
“O Brasil ainda está em terceiro lugar no número de acidentes, não só fatais, como corriqueiros, e isso é que nós queríamos evitar, reduzir”, disse Cristina Aparecida. China e Estados Unidos lideram o ranking de países com maior número de acidentes de trabalho.
Objetivo da Campanha
O MPT levou tempo para idealizar a campanha, pois o objetivo era sensibilizar tanto empregadores quanto trabalhadores. “Acidentes de trabalho são causados pelas duas partes: o empregador, que não fornece ferramentas para reduzir as ocorrências, e o empregado, que muitas vezes não usa os equipamentos de proteção individual (EPIs)”, afirmou Cristina Aparecida, destacando a “teimosia bilateral” na relação.
Depoimentos no Documentário
O documentário traz depoimentos de pessoas impactadas por acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Entre elas, Lídia Maria Bandacheski do Prado, agricultora de Rio Azul, Paraná, que foi diagnosticada com intoxicação crônica por agrotóxicos e tornou-se incapaz de trabalhar. “Ela lidava com agrotóxico que foi minando sua saúde e a levou a ser cadeirante”, contou Cristina Aparecida.
Desde 2015, Lídia trava batalhas judiciais contra a empresa responsável por sua condição. Sua advogada, Vania Moreira, enfatiza a importância da Justiça do Trabalho para garantir a reparação e a qualidade de vida dos afetados.
Outro depoimento é de Clodoaldo Godinho, que perdeu as mãos em um grave acidente após apenas 12 dias de trabalho sem treinamento adequado. Ele se reinventou como técnico em segurança do trabalho e palestrante, promovendo um ambiente laboral mais seguro.
O filme também destaca o caso de Giseli Borges, viúva de Noel, vítima do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais. Noel era um trabalhador terceirizado que morreu durante a tragédia, que é considerada o maior acidente de trabalho do Brasil.
Campanha em Andamento
A campanha do MPT, iniciada em janeiro de 2024, será encerrada no fim de agosto. Cada mês aborda um tema específico, como riscos psicossociais, setor aeroportuário, industrial, construção civil, transportes e mineração. Para julho e agosto, os temas são agropecuária e saúde e serviços sociais, respectivamente.
Dados Alarmantes
Segundo o Observatório de Segurança no Trabalho (SmartLab), 15% dos acidentes de trabalho registrados nos últimos dez anos no Brasil foram causados por operação de máquinas e equipamentos. Em 2022, o Brasil registrou 612.900 acidentes de trabalho, com 392 mil casos no Sistema Único de Saúde (SUS), um aumento de 22%.
Técnicos de enfermagem, alimentadores de linha de produção, faxineiros, motoristas de caminhão e serventes de obra são as ocupações com mais registros de acidentes. Santa Catarina lidera em número de acidentes, seguido por Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Impacto Global
A Organização Mundial do Trabalho (OMT) relata que meio bilhão de dias de trabalho foram perdidos desde 2012 devido a acidentes, com uma perda média anual para o PIB mundial de 4%. A OMS aponta que 15% da população em idade ativa vive com distúrbios psicossociais, resultando em perdas significativas de dias de trabalho e custos financeiros.
O teaser do documentário do MPT pode ser acessado neste link.