Um novo estudo coordenado por pesquisadores brasileiros revela que a Amazônia está cada vez mais quente e seca, especialmente durante a estação seca – entre o segundo e o terceiro trimestres do ano. A pesquisa, publicada na revista científica Nature Communications em setembro, detalha a influência do desmatamento e das mudanças climáticas globais nesse cenário.
De acordo com o estudo, o desmatamento é responsável por cerca de 75% da redução das chuvas na estação seca da Amazônia. Já o aquecimento global, impulsionado pela emissão de gases de efeito estufa, contribui significativamente para o aumento das temperaturas.
“Desenvolvemos uma modelagem estatística que nos permitiu identificar a parcela do aumento da temperatura e da diminuição das chuvas na Amazônia que é atribuível ao desmatamento regional e à influência do aquecimento global durante a estação seca”, explica o físico Marco Franco, da Universidade de São Paulo (USP), autor principal do artigo.
A pesquisa analisou dados de 1985 a 2020 e constatou uma redução média de 21 milímetros (mm) na precipitação durante a estação seca. Desse total, 15,8 mm (74,5%) foram resultado do desmatamento, enquanto 5,2 mm (25,5%) foram causados pelas mudanças climáticas globais. Em relação ao aumento das temperaturas máximas, o aquecimento global foi o principal fator, respondendo por 83,5% do aumento de 2ºC.
Com o avanço do desmatamento, a área de vegetação suprimida na Amazônia Legal dobrou entre 1985 e 2020, passando de 10,9% para 21,3% do total. No mesmo período, a concentração atmosférica de dióxido de carbono (CO2) aumentou em aproximadamente 20%.
A floresta amazônica desempenha um papel crucial na formação de nuvens e na geração de chuvas, emitindo gases que atuam como núcleos de condensação na atmosfera. Por isso, a redução das chuvas na estação seca, mesmo que pequena em termos absolutos, tem um grande impacto na região, especialmente durante o período de maior estresse hídrico.
A análise foi dividida em 29 segmentos menores da Amazônia Legal para calcular os impactos do desmatamento e das mudanças climáticas. Em áreas com maior desmatamento (acima de 30%), a redução de chuvas na estação seca chegou a 50 mm, mais do que o dobro da média regional.
Os dados de desmatamento foram fornecidos pelo MapBiomas, e os dados de precipitação foram obtidos a partir de satélites da Missão Global de Medição de Precipitação (GMP). A pesquisa também aponta que os impactos climáticos do desmatamento são mais rápidos quando a perda de vegetação nativa está entre 10% e 40% do total.
Os pesquisadores projetam que, se o ritmo atual de desmatamento se mantiver, a temperatura máxima na estação seca poderá aumentar em 2,64ºC e a redução de chuvas atingirá 28,3 mm até 2035, em comparação com os níveis de 1985.











