Uma pesquisa realizada por estudantes da Universidade Federal do Amapá (Unifap) revelou que a população negra e moradores de áreas periféricas são os mais afetados por doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya. O estudo, apresentado na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia, analisou dados de 2021 e 2022 e encontrou disparidades raciais significativas nos casos de internação e óbitos.
Lyanna Barroso, pesquisadora do projeto “Vigiaedes”, explica que a maior incidência em comunidades marginalizadas está ligada às condições de vida e acesso à saúde. “A dengue não atinge a todos da mesma forma. Nossos dados mostram que a população negra é a mais afetada, devido às condições sociais em que vivem. Buscamos levar educação e saúde para escolas e comunidades, ensinando sobre o ciclo do mosquito e como evitar a proliferação”, afirma.
A pesquisadora também destaca que a dificuldade de acesso a serviços de saúde é um fator crucial. “Muitas pessoas da periferia trabalham na informalidade, moram longe dos postos de saúde e, quando conseguem atendimento, nem sempre recebem o cuidado necessário”, completa.
Desigualdade racial nos dados
A análise, baseada em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, revelou que, dos 13.113 casos de dengue registrados no Amapá entre 2021 e 2022, 81,4% foram em pessoas autodeclaradas pardas, considerando apenas os casos com informação sobre raça/cor (11.944 registros).
Além disso, 88,8% das hospitalizações ocorreram entre pessoas negras (pretas e pardas). Um dado alarmante é que não houve óbitos entre a população branca, seja por agravamento da doença ou outras causas.
“Essas pessoas vivem em áreas de risco, com falta de infraestrutura e água parada, ambientes ideais para a proliferação do mosquito. Não é uma questão genética, mas sim do ambiente, do acesso à saúde e do racismo estrutural. Políticas públicas eficazes são essenciais”, ressalta Lyanna.
Todos os sorotipos em circulação
O estudo também identificou a presença dos quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) no Amapá. A circulação simultânea desses sorotipos aumenta o risco de casos graves e reforça a importância das medidas preventivas. O projeto “Vigiaedes” desenvolve ações educativas em escolas e comunidades para conscientizar a população.
“Queremos que a população seja protagonista na luta contra essas doenças. Ao ensinarmos sobre o ciclo do mosquito, as crianças levam esse conhecimento para suas famílias”, finaliza a pesquisadora.