A Amazônia possui uma enorme variedade de sistemas produtivos locais (SPLs) – do açaí e da castanha-do-pará aos óleos vegetais, artesanato e turismo de base comunitária – que combinam o conhecimento tradicional com a conservação ambiental e a geração de renda. No entanto, transformar os produtos da floresta em oportunidades de mercado ainda enfrenta dificuldades com logística, acesso a crédito, assistência técnica, certificação e preços.
Este artigo analisa os desafios e oportunidades para fortalecer esses sistemas produtivos, com foco na transição para uma bioeconomia que valorize a sociobiodiversidade e os conhecimentos das comunidades locais. A discussão destaca a importância de políticas públicas, cooperativismo, rastreabilidade e inovação tecnológica para garantir a sustentabilidade da região.
1. Panorama da produção extrativista na Amazônia

Dados recentes do IBGE (2024) mostram que o Brasil produziu 763.662 toneladas de produtos alimentícios da extração vegetal. Embora a Região Sul seja a maior produtora, com 387.200 toneladas (51% do total nacional), a Região Norte ocupa o segundo lugar, com 277.058 toneladas (36%).
Apesar do volume menor, a produção amazônica se destaca pela diversidade. Enquanto o Sul é fortemente dependente da erva-mate, na Amazônia, castanha-do-pará, açaí, babaçu, andiroba, buriti e outros produtos formam uma rede de sistemas produtivos locais baseados no uso sustentável da floresta e na valorização do conhecimento tradicional.
Essa diferença mostra que, mesmo com menor volume, a produção amazônica tem um papel socioambiental importante e é um ativo estratégico para o desenvolvimento de uma bioeconomia sustentável. Fortalecer essas cadeias, com crédito, certificação e melhoria da logística, é essencial para transformar o potencial da Amazônia em vantagem competitiva.
2. Principais produtos da extração vegetal na Amazônia
A diversidade é uma marca do extrativismo amazônico. O açaí (229.938 toneladas) e a castanha-do-pará (33.422 toneladas) são os produtos que mais se destacam, mas há muitos outros, como fibras, óleos vegetais, borrachas naturais, piaçava, babaçu, buriti e frutos nativos com potencial para a bioeconomia.
Tabela 1 – Produção de produtos extrativos selecionados na Região Norte, 2024
| Madeira em tora | 8.080.566,0 | Metros cúbicos |
| Lenha | 3.309.926,0 | Metros cúbicos |
| Açaí (fruto) | 229.938,0 | Toneladas |
| Carvão vegetal | 140.793,0 | Toneladas |
| Castanha-do-pará | 33.422,0 | Toneladas |
| Fibras | 5.355,0 | Toneladas |
| Piaçava | 5.039,0 | Toneladas |
| Palmito | 3.299,0 | Toneladas |
| Pequi (fruto) | 3.074,0 | Toneladas |
| Oleaginosos | 2.467,0 | Toneladas |
| Borrachas | 1.549,0 | Toneladas |
| Hevea (látex coagulado) | 1.532,0 | Toneladas |
| Babaçu (amêndoa) | 1.296,0 | Toneladas |
| Buriti | 297,0 | Toneladas |
| Copaíba (óleo) | 290,0 | Toneladas |
| Pequi (amêndoa) | 270,0 | Toneladas |
| Cumaru (amêndoa) | 188,0 | Toneladas |
| Ceras | 120,0 | Toneladas |
| Castanha-de-caju | 53,0 | Toneladas |
| Hevea (látex líquido) | 18,0 | Toneladas |
| Mangaba (fruto) | 12,0 | Toneladas |
| Aromáticos, medicinais, tóxicos e corantes | 1,0 | Toneladas |
| Urucum (semente) | 1,0 | Toneladas |
| Tucum (amêndoa) | 1,0 | Toneladas |
Fonte: IBGE – Produção da Extração Vegetal e Silvicultura (PEVS), 2024.
Cada produto extrativo está ligado a um bioma, um ciclo ecológico e um saber tradicional diferente. O açaí, por exemplo, é um alimento importante tanto no Brasil quanto no exterior, enquanto a castanha-do-pará é uma fonte de renda para comunidades ribeirinhas e indígenas.
Produtos como copaíba, andiroba, buriti e cumaru estão ganhando espaço nos setores de cosméticos e farmacêutico, sendo importantes para a bioeconomia amazônica.
3. Desafios e oportunidades para os sistemas produtivos locais na Amazônia
A Amazônia enfrenta desafios como desigualdade social, falta de infraestrutura e dificuldades logísticas. Segundo especialistas, negócios liderados por ribeirinhos, indígenas e extrativistas podem gerar desenvolvimento, mas precisam de apoio para superar esses obstáculos.
Entre os principais desafios estão:
- Logística precária e custos elevados de transporte.
- Dificuldade de acesso a crédito e financiamento.
- Falta de assistência técnica e capacitação.
- Barreiras para certificação e acesso a mercados justos.
A bioeconomia surge como uma oportunidade para transformar os recursos naturais em produtos de maior valor agregado, como alimentos funcionais, cosméticos naturais e fitoterápicos. Isso pode gerar cadeias mais resilientes e reduzir a dependência da exploração predatória.
A construção de cadeias de valor sustentáveis requer a articulação entre comunidades, governos e empresas, promovendo inovação, governança compartilhada e inclusão social.
4. Considerações finais
Os sistemas produtivos locais da Amazônia precisam conciliar conservação ambiental e desenvolvimento econômico. Apesar dos desafios, a bioeconomia oferece uma oportunidade para valorizar a sociobiodiversidade, gerar renda e promover a inclusão social. Para isso, é fundamental investir em inovação, governança compartilhada e integração entre os diferentes atores da região.
Com informações do Portal Amazônia










