Os Correios anunciaram um plano de recuperação financeira após registrar um prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, o maior em oito anos. A estatal busca R$ 20 bilhões em financiamentos para conter a crise e reforçar o caixa, modernizar a infraestrutura logística e quitar dívidas judiciais e trabalhistas.
Crise financeira
O pedido de crédito ocorre em um momento de deterioração das contas da empresa. As despesas administrativas entre janeiro e junho chegaram a R$ 3,4 bilhões, um aumento de 74% em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse aumento é atribuído a reajustes salariais para os 55 mil funcionários, pagamento de precatórios e dívidas trabalhistas.
O caixa da empresa diminuiu drasticamente, passando de R$ 2,9 bilhões em 2023 para apenas R$ 126 milhões em 2025. Essa situação gerou atrasos em repasses a fornecedores, transportadoras e no plano de saúde dos empregados.
Queda nas receitas
Paralelamente ao aumento das despesas, a receita dos Correios despencou em mais de R$ 1 bilhão no primeiro semestre. A principal queda foi observada nas encomendas internacionais, com uma redução de 62% na arrecadação, passando de R$ 2,1 bilhões para R$ 815 milhões.
A empresa atribui essa queda à implementação da “taxa das blusinhas”, que passou a tributar compras estrangeiras de até US$ 50, impactando o volume de postagens vindas do exterior. Os Correios afirmam enfrentar “restrições financeiras decorrentes de fatores externos que afetaram diretamente a geração de receitas”.
Plano de recuperação
Em maio, a empresa lançou um plano de recuperação financeira que prevê corte de custos e diversificação das fontes de receita. As medidas incluem:
- Redução de 20% dos cargos comissionados;
- Programa de Desligamento Voluntário (PDV);
- Suspensão temporária de férias;
- Redução de jornada de trabalho;
- Venda de imóveis ociosos;
- Criação de um marketplace próprio ainda em 2025.
A estatal espera economizar até R$ 1,5 bilhão e aumentar a receita com novos serviços e parcerias comerciais.
Resistência sindical
As medidas de recuperação enfrentam resistência de sindicatos, que pedem garantias trabalhistas e maior diálogo com a gestão. A Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect) solicitou que o PDV não cause déficit de pessoal e que a suspensão de férias seja discutida regionalmente. A entidade também exige garantias de retorno à jornada integral para funcionários que aderirem à redução de horas.
Apesar do plano de recuperação, a estatal acumula 11 trimestres consecutivos de prejuízo e depende da injeção de recursos externos para manter as operações em 2026. Técnicos da empresa admitem que a situação exige uma revisão estrutural do modelo de negócios, pois a combinação de queda nas receitas e aumento dos custos ameaça a sustentabilidade da empresa a médio prazo.