A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Cop30), que acontece em Belém, tem sido palco de importantes discussões, e uma delas ganhou destaque: o combate às fake news (notícias falsas) sobre o meio ambiente. Um manifesto, assinado por cerca de 400 organizações científicas, ambientais e sociais, denuncia o impacto da desinformação nas discussões sobre as mudanças climáticas.
O documento, lançado em 12 de novembro, solicita aos governos e entidades internacionais que promovam medidas mais eficazes para conter a disseminação de informações falsas sobre questões climáticas. Segundo o manifesto, essas notícias falsas não apenas dificultam a implementação de políticas públicas adequadas, mas também representam uma ameaça à saúde pública, aos direitos humanos e à segurança.
“Esse tipo de documento e as discussões que ele gera, especialmente em um momento crucial como a Cop30, são essenciais para dar voz a uma causa que muitas vezes não recebe a atenção necessária”, afirma Liliane Lucena Ito, professora da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp, que pesquisa o problema das fake news na área ambiental.
Liliane explica que as narrativas falsas e as teorias conspiratórias não apenas desviam o foco de temas importantes, mas também podem criar preconceitos contra regiões, etnias e movimentos sociais ligados à defesa do meio ambiente. “A disseminação de informações falsas tem afetado a percepção das pessoas em relação às questões socioambientais”, avalia.
O manifesto apela para a adoção de medidas concretas para combater a veiculação de conteúdos falsos na internet e nas redes sociais. A professora defende que os governos devem trabalhar para regular as grandes empresas de tecnologia, estabelecendo regras claras e responsabilizando-as pelo conteúdo que circula em suas plataformas. No entanto, ela reconhece que os interesses políticos e econômicos dessas empresas representam um obstáculo à regulamentação.
Desafios no combate à desinformação
Além da regulamentação, outro desafio é superar as “bolhas ideológicas” criadas pelos algoritmos das redes sociais. Esses algoritmos tendem a mostrar aos usuários conteúdos que confirmam suas opiniões preexistentes, restringindo o acesso a informações diversas e dificultando o combate à desinformação. “O algoritmo prioriza o que você já curtiu, compartilhou e consumiu, limitando sua exposição a diferentes perspectivas”, explica Liliane.
Isso dificulta que até mesmo as agências de checagem, que oferecem um importante contraponto às fake news, alcancem o público que precisa de informação confiável. “A maior dificuldade é quebrar essa barreira e conscientizar as pessoas”, afirma a pesquisadora.
O apego a informações que confirmam crenças pessoais, conhecido como “pós-verdade”, também é um problema. Nesse cenário, as pessoas tendem a priorizar seus sentimentos e convicções em vez de fatos concretos. Para reverter essa situação, é fundamental investir em educação midiática, ensinando as pessoas a avaliar criticamente as informações que recebem. O manifesto, subscrito por organizações como a Rede Internacional de Ação Climática e a ONG 350.org, também acusa empresas do setor de combustíveis fósseis de financiar campanhas de desinformação.
“É um documento que reforça todo o ativismo socioambiental e pode, a médio e longo prazo, contribuir para a criação de leis e políticas públicas mais eficazes nesse sentido”, analisa Liliane.
*Com informações do Jornal da Unesp









