
Resumo
- Smartphones norte-coreanos operam com software que monitora usuários e censura palavras em tempo real.
- De acordo com o youtuber Arun Maini, o sistema realiza capturas de tela automáticas e impede o uso de termos proibidos.
- As análises de um aparelho contrabandeado indicam que o acesso à internet é restrito a uma intranet nacional.
Smartphones utilizados na Coreia do Norte operam com uma camada de software projetada para vigiar os cidadãos. Uma análise de dois aparelhos contrabandeados, incluindo o modelo “Samtaesung 8”, confirma a presença de uma ferramenta no sistema operacional que faz capturas de tela aleatoriamente e bloqueia conteúdos.
As descobertas foram publicadas pelo youtuber Arun Maini, do canal MrWhosetheboxx, que teve acesso aos dispositivos. No vídeo, ele expõe como o governo modifica versões antigas do Android (10 e 11) para criar ferramentas de controle.
Apesar de manter a interface do Android e funcionar normalmente, os aparelhos bloqueiam funções, como acesso à internet global, e possuem mecanismos ativos de censura que reescrevem mensagens digitadas pelos usuários e restringem a instalação de aplicativos a processos físicos e burocráticos.
Agências de imprensa estatais e o governo costumam classificar essas restrições como medidas de defesa contra forças imperialistas (principalmente os Estados Unidos). Em 2020, Kim Jong-un assinou uma lei que proíbe o consumo de mídia estrangeira no país, incluindo conteúdos sul-coreanos, o que poderia explicar as restrições em smartphones e apps.
Vigilância através de prints
O recurso mais invasivo detalhado na análise é um sistema de monitoramento visual embutido. O software do telefone realiza capturas de tela automáticas e silenciosas sempre que o usuário abre um aplicativo.
Essas imagens são salvas em uma partição oculta e criptografada do armazenamento, impossível de ser acessada ou apagada pelo dono do aparelho, mas disponível para inspeção pelas autoridades.

O funcionamento corrobora denúncias anteriores sobre a infraestrutura de vigilância do país. Em junho, uma reportagem da BBC já havia detalhado um mecanismo similar em outro modelo norte-coreano, que registrava a tela do usuário a cada cinco minutos, criando um histórico permanente de atividade.
Além dos prints, o sistema operacional também é modificado para impedir o uso de termos proibidos ou politicamente sensíveis. Durante os testes, foi constatado que digitar “Coreia do Sul” seria impossível: o software intervém automaticamente, substituindo o nome do país vizinho por asteriscos ou pela frase “estado fantoche”. Outros termos comumente utilizados pelos sul-coreanos também são corrigidos.
Bloqueio de arquivos e apps “falsos”
A experiência de uso no Samtaesung 8 — aparentemente baseado no Huawei Nova 9 —, segundo Maini, é restrita a uma intranet nacional, sem conexão com a World Wide Web. O próprio ícone de Wi-Fi na central de controle não funciona, sendo necessário utilizar um app próprio do governo para estabelecer uma conexão.
Além disso, os aparelhos vêm pré-carregados com aplicativos que imitam interfaces populares, como jogos, streamings e mapa, mas possuem funcionalidades limitadas.

Para impedir o consumo de mídia estrangeira, o sistema utiliza um protocolo de assinatura digital. Se um usuário tentar transferir um arquivo de vídeo, foto ou música que não possua a assinatura criptográfica do governo norte-coreano, o arquivo é rejeitado e deletado automaticamente.
A instalação de novos softwares também é restrita. Não há uma loja de apps acessível online e, para instalar qualquer programa, o usuário deve visitar uma loja física aprovada pelo governo, onde técnicos realizam a instalação via cabo.
Com informações de Android Authority
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