Foto: Enrique Alves
Um estudo recente da Embrapa revela um cenário positivo para a cafeicultura nas Matas de Rondônia. A região, que se tornou um polo na produção de café robusta amazônico na última década, demonstra alto grau de tecnificação, produtividade, preocupação com a sustentabilidade ambiental e rentabilidade para os produtores.
O levantamento analisou os 15 municípios que formam a região das Matas de Rondônia, responsáveis por 75% da produção de café robusta do estado. Esses municípios já possuem o selo de Indicação Geográfica (IG) que atesta a qualidade do grão produzido.
Apesar de uma redução na área total de cafezais – de 245 mil hectares em 2001 para 60,6 mil hectares em 2023 – a produtividade aumentou significativamente, saltando de 7,8 para 50,2 sacas por hectare no mesmo período. Esse fenômeno, chamado de ‘poupa-terra’, demonstra a eficiência e o uso intensivo da terra.
O estudo, realizado em parceria com o Sebrae-RO, IBGE e Conab, e com dados coletados via satélite, dentro do projeto CarbCafé da Embrapa Territorial (SP), revela que a cafeicultura está concentrada em pequenas propriedades familiares, com cafezais de até 28,6 hectares, ocupando em média 3,4 hectares. São mais de sete mil produtores no estado.
“Um dos registros mais positivos foi a boa rentabilidade do Robusta Amazônico”, afirma Calixto Rosa Neto, analista da Embrapa Rondônia e autor do estudo. “Uma saca de 60kg custa cerca de R$ 618,00 e é vendida por aproximadamente R$ 1.300,00, uma margem que contribui para melhorar a qualidade de vida dos produtores.” Esse cenário também tem atraído jovens para o campo, reduzindo a idade média dos cafeicultores de 53 para 47 anos em 15 anos.
Os produtores demonstram maturidade econômica ao esperar por melhores preços para comercializar a safra. Além disso, o estudo aponta um alto nível de tecnificação dos cafezais, com uso de máquinas colhedoras (mais de 200 na região), práticas de manejo de solo e plantas, fertirrigação e adubação correta.
A conectividade também aumentou drasticamente: em 2017, apenas 9,2% das propriedades rurais da região tinham acesso à internet, enquanto em 2023, esse número subiu para 97,7%. A internet é utilizada principalmente para compra de insumos, comunicação e comercialização.
O estudo também identificou desafios, como a escassez de mão de obra e a necessidade de tecnologias específicas para a colheita do café robusta, que possui características diferentes do arábica. Além disso, o controle financeiro ainda é um ponto fraco para muitos produtores.
As mudanças climáticas também representam um desafio, com períodos de seca mais longos exigindo maior irrigação. A pesquisa destaca a importância de técnicas de eficiência hídrica para garantir a sustentabilidade da produção.
A cafeicultura das Matas de Rondônia se destaca pela sua contribuição para a conservação ambiental. O estudo comprova que os cafezais sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emitem, e que houve desmatamento zero em sete dos 15 municípios da região entre 2020 e 2023. Mais da metade do território das Matas de Rondônia é coberta por florestas nativas, incluindo áreas em terras indígenas.
“O café está se consolidando como um produto de alta qualidade, que promove o desenvolvimento social em pequenas propriedades e comunidades tradicionais, e ainda ajuda a manter a floresta Amazônica”, conclui Enrique Alves, pesquisador da Embrapa.










