Em meio à COP30, a primeira vez que a conferência climática das Nações Unidas acontece na Amazônia, em Belém (PA), cientistas fazem um alerta: o Brasil precisa transformar promessas em ações concretas para combater o aquecimento global.
Eles defendem que o país, como sede do evento, deve alinhar suas políticas internas com os compromissos internacionais, priorizando a conservação das florestas e a justiça climática. A mensagem é clara: é hora de sair do discurso e partir para a prática.
Os pesquisadores destacam a necessidade de “reverter políticas que prejudicam o meio ambiente, fortalecer a fiscalização contra o desmatamento e apoiar iniciativas de desenvolvimento sustentável”. Para isso, sugerem reformas nas leis, a retomada do licenciamento ambiental rigoroso e a proteção dos direitos dos povos indígenas.
O estudo, publicado na revista científica International Environmental Agreements: Politics, Law and Economics, traz um olhar crítico sobre o cenário atual. Os cientistas citam como exemplos negativos a aprovação da Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que pode enfraquecer a proteção ambiental, e a construção de rodovias que contribuem para o desmatamento.
Apesar das preocupações, o artigo também reconhece avanços, como a redução do desmatamento na Amazônia Legal e a queda das emissões de gases de efeito estufa. Entre agosto de 2023 e julho de 2024, o desmatamento caiu 11%, atingindo o terceiro menor patamar da série histórica.
“O Brasil tem uma oportunidade única de mostrar liderança na luta contra as mudanças climáticas”, afirma a bióloga Daniela Debone, primeira autora do estudo e pesquisadora do Instituto Paulista de Resistência aos Antimicrobianos (ARIES) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A COP30 é um momento crucial para apresentar propostas concretas e colocar em ação o que o país se comprometeu a fazer.”
Debone ressalta a importância do Plano de Ação em Saúde de Belém, que busca fortalecer a adaptação e a resiliência do sistema de saúde frente às mudanças climáticas. O plano faz parte da programação da COP30 e inclui ações como a criação de sistemas de vigilância e monitoramento e a promoção de políticas baseadas em evidências.
Os pesquisadores também alertam para os impactos das mudanças climáticas na saúde pública, como o aumento de doenças infecciosas, a desnutrição e o estresse térmico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as alterações climáticas podem causar cerca de 250 mil mortes por ano até 2050.
“Precisamos traduzir o conhecimento científico em políticas públicas eficazes”, diz a professora Simone Miraglia, do ARIES. “A ciência brasileira tem um papel fundamental a desempenhar nesse processo, oferecendo soluções e mostrando caminhos para um futuro mais sustentável.”
O estudo foi assinado por pesquisadores da USP, Ufal, Fiocruz e da FAPESP. A pesquisa é financiada pela FAPESP e faz parte de um esforço maior para compreender e mitigar os impactos das mudanças climáticas e da resistência antimicrobiana.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por Luciana Constantino.







